O fato de ter cravado a média da projeções é o grande alívio do anúncio do IBGE, nesta sexta-feira (29), da queda de 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, na comparação com o acumulado nos três meses anteriores. Fora isso, há poucos alentos.
Como se previa, o maior peso na redução do período que teve menos de 15 dias de impacto do coronavírus, foi o consumo das famílias. A queda de foi de 2% entre janeiro e março em relação ao quatro trimestre de 2019. E esse corte no consumo das famílias, principal motor da economia brasileira, vai se acentuar dramaticamente no segundo trimestre. Esse ponto foi destacado pelo economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, para revisar sua projeção para o ano de uma perda de 4% para um tombo de 7,5%.
Apesar do número assustador, a projeção de recuperação de Perfeito é otimista: seria em "V", com volta ao terreno positivo a partir do terceiro trimestre. A piora, segundo o economista, "se deve aos dados correntes e também aos desafios da coordenação de políticas para o enfrentamento da crise".
Na véspera, Perfeito já manifestava preocupação com um dado da Pnad Contínua do IBGE relacionado à atividade econômica. Embora a perda de 4,9 milhões de ocupações tenha sido o número mais dramático, o economista mirou outro indicador, que já inclui abril, primeiro mês do segundo trimestre: "a massa salarial real habitual vem caído de forma relevante e sugere que a desaceleração deve ser muito mais forte que a inicialmente projetada". O declínio foi de quase 10%. Com renda em queda, haverá também retração no consumo das famílias.
Um dos dados apresentados pelo IBGE, em outros tempos, seria alentador. No primeiro trimestre, o avanço do investimento, medido pelo indicador chamado Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), de 4,3% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior e de 3,1% na comparação com o período imediatamente anterior, havia sido o maior desde o segundo trimestre de 2019.
Em tempos normais, seria um importante farol para o futuro, porque o investimento de hoje é o crescimento de amanhã. A alta incerteza no meio da pandemia, porém, cancelou ou adiou boa parte dos novos projetos. Para manter empreendimentos de longo prazo, e preciso coragem e, acima de tudo, caixa. O investimento no retrovisor se tornou uma imagem fosca e imprecisa. Investimento também se alimenta de crédito, enquanto o Brasil enfrenta um nó nas novas concessões, e de confiança, enquanto uma crise institucional é alimentada no Planalto.