Há cerca de 20 dias, um relatório destinado a investidores estrangeiros causou polêmica no mercado financeiro. O título era "A casa do Brasil em chamas". Tratava-se de uma metáfora para a combinação inflamável das crises no Brasil: a sanitária, a econômica e a política – a terceira, evitável.
Na madrugada de domingo, um grupo protestou com tochas, roupas pretas e máscaras de filmes de terror em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF). Era liderado por Sara Winter, investigada no inquérito contra fake news que tramita no STF e líder do movimento Os 300 do Brasil, de apoio ao presidente Jair Bolsonaro.
O fogo é associado à imagem global do presidente desde as queimadas na Amazônia, e foi reforçado quando a revista liberal britânica The Economist o chamou de “Bolsonero”. Tochas eram só o que faltava para piorar a metáfora, por sua relação com supremacistas americanos da Ku Klux Klan e práticas medievais.
É como começa a semana que deveria ser marcada pelo debate em torno do que fazer para evitar que se concretizem as piores projeções para o PIB do segundo trimestre, depois da queda de 1,5% de janeiro a março. As previsões são de queda vertiginosa, do mínimo de 7% ao máximo de 15%. Além de medidas urgentes de curto prazo, como a correção do auxílio emergencial e das iniciativas de acesso a crédito, é preciso pensar no pós-pandemia, que vai demandar investimentos de todas as origens possíveis, pública e privada, nacional e internacional.
Cenas como a das tochas ainda na escuridão espantam desde o brasileiro médio até os grandes investidores. Contribuem para gravar, literalmente a fogo, a marca do Brasil como país retrógrado, intolerante, antidemocrático. Essas marcas afastam as soluções de que o Brasil – e seu governo de plantão – precisa para reagir às crises e construir soluções. Se o presidente e seus apoiadores consideram o distanciamento social uma ameaça à economia, podem assumir o risco de um problema muito mais grave: o isolamento global.