Enquanto se multiplicam temores e relatos de impacto nos negócios de exportadores brasileiros, em reação ao dano à imagem do país no Exterior provocado pela má gestão
da crise da Amazônia, o empresário gaúcho Marcus Coester, CEO da Aeromovel Brasil
e presidente da Câmara Brasil-Alemanha no Estado, sentiu na pele o clima hostil em
fóruns internacionais.
– Todos levamos a culpa – avalia Coester sobre o clima que enfrentou na última semana.
Em algumas das reuniões, relata, exemplares dos jornais The New York Times e The Wall Street Journal – este último focado em negócios e mercado – já recebiam os participantes com fotos autênticas das queimadas. O público era formado por empresários, representantes de indústrias e de grupos de investimento – ou seja, não havia organizações não governamentais (ONGs).
– Como brasileiro, fui confrontado por interlocutores estadunidenses em absolutamente todas as reuniões, precisamente seis vezes. Às vezes com deboche, às vezes com muito sarcasmo, mas também com certo grau de enfrentamento em conversas específicas.
A abordagem mais frequente era "what's going on in Amazon (o que está havendo na Amazônia)?", relata. Em alguns casos, havia um tom de preocupação sincera. Mas não era muitos. Coester, que disputa projetos internacionais, como uma conexão no aeroporto de Los Angeles, relata que executivos e empresários brasileiros atuantes no mercado internacional costumam deparar com "caricaturas" do Brasil, como Carnaval e futebol. Mais recentemente, detalha, a péssima imagem internacional do Brasil em relação à segurança pública teve efeito mais danoso, espantando visitantes, investidores e eventuais imigrantes.
– A negligência e talvez um posicionamento político arcaico do governo federal em relação aos temas de sustentabilidade ambiental começaram a gerar situações bem mais embaraçosas aos brasileiros com relações de negócios em outros países. Sem entrar na discussão dos reais interesses políticos e econômicos das outras nações sobre a floresta amazônica, o atual quadro em nada ajuda as empresas brasileiras com atuação internacional.
– Em uma teleconferência, um colombiano que estava em Bogotá disse, de forma desafiadora, que temos de aprender com eles a cuidar e desenvolver a economia da floresta. Lá, 42% do território é de floresta amazônica.
Na avaliação de Coester, o que está ocorrendo no Brasil é "inaceitável", porque nos países desenvolvidos a sociedade civil se movimenta em torno desses temas, que pouco tem a ver com governo.
Ao ler esta nota, outro gaúcho que frequenta fóruns internacionais reforçou o relato de Coester. Luis Ferreira, executivo de uma grande multinacional com unidade na Região Metropolitana, fez o seguinte relato:
– Vou para um seminário de marketing digital e não tem uma pessoa que, ao saber que sou brasileiro, não me questiona, em um tom não agressivo, mas assertivo, sobre o problema.
Segundo Ferreira, a "visão rasa" da crise da Amazônia e o clima de cobrança moral pode ser difícil de imaginar do Brasil, mas é real e vai "muito além dos círculos profissionais". Na visão do executivo, o problema não é só do governo:
– Como brasileiros, nos encanta a ideia de termos o 'pulmão do mundo', essa metáfora infeliz que virou marca, e como população também somos pouco versados na dimensão e complexidade do problema.