Nem o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, concordou. Na segunda-feira à noite, depois de saber que o colega da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, havia indicado que o governo Bolsonaro recusará a ajuda de US$ 20 milhões prometida pelo G7, o grupo dos sete países mais ricos do planeta, Salles considerou "uma ajuda importante de ser aceita".
Apesar das doses de sensacionalismo e desinformação que cercaram a reação global ao aumento das queimadas na Amazônia, o problema existe. E recusar ajuda internacional, depois do imenso desgaste da imagem do Brasil no Exterior, é um duplo erro, que beira a irresponsabilidade.
O primeiro erro é prático, como apontou Salles. A obrigação do governante é conduzir soluções para problemas. Em ao menos duas oportunidades recentes, o presidente Jair Bolsonaro foi dramático ao descrever a situação das finanças públicas. Na primeira, afirmou que não havia dinheiro, o que deixava os ministros "desesperados". Na segunda, ao explicar porque não havia condições de reforçar a fiscalização na Amazônia, afirmou que o orçamento estava "um caos".
Não é preciso muita análise de discurso para ouvir um pedido de ajuda nesses termos tão extremos, para quem tem a responsabilidade de comandar um país em crise. Quem enfrenta uma situação tão dramática e tem um problema extra para resolver deveria contar com toda a ajuda possível, não?
O segundo equívoco está na avaliação da profundidade da crise de imagem do Brasil. O Palácio do Planalto não deve ter visto as capas dos principais jornais do mundo na segunda-feira.
Houve exagero? Certamente. Mas desinformação se combate com transparência e disposição de expor e corrigir a origem do problema. Aceitar ajuda seria um passo nessa estratégia. Até o tamanho da promessa — US$ 20 milhões são claramente insuficientes para combater o que já foi apresentado até como "início da destruição final da maior floresta tropical do planeta" — ajudaria a conter a especulação sobre o real tamanho do problema.
Ao indicar que pretende recusar a oferta do G7, o Brasil corre o risco de reforçar a imagem de pária ambiental, aumentar a rejeição popular no Exterior e enfrentar boicotes espontâneos a produtos nacionais. Tudo o que não precisa quando não consegue reativar o consumo dentro do país e tem, no mercado externo, a oportunidade para vender, gerando empregos e renda.
Tantos ruídos começam a contagiar o humor dos investidores, como ficou claro na reação do mercado financeiro na segunda-feira (26). Tantos confrontos abertos pelo presidente, em várias frentes, já custaram um significativo desgaste na sua aprovação nacional, como mostrou pesquisa da CNT. Se o pronunciamento de sexta-feira e as medidas emergenciais para combate focos de incêndio na floresta deram esperança, a recusa de ajuda soa como rompimento com a comunidade internacional.