O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A notícia parece velha, mas não é. O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a chamar atenção por causa de expressões fortes usadas durante discurso. Em live no sábado, Guedes disse que "200 milhões de trouxas" no país são "explorados por seis bancos". O lado curioso é que o encontro virtual havia sido organizado pelo Itaú BBA, braço de investimentos do Itaú Unibanco, que encabeça a lista das seis maiores instituições do setor.
– Em vez de termos 200 milhões de trouxas sendo explorados por seis bancos, seis empreiteiras, seis empresas de cabotagem, seis distribuidoras de combustíveis; em vez de sermos isso, vai ser o contrário. Teremos centenas, milhares de empresas – comentou o ministro.
A concentração bancária referida por Guedes é apontada por especialistas como um dos principais motivos de os recentes cortes na taxa Selic não chegarem com o mesmo vigor ao consumidor na ponta. Essa questão técnica levantada pelo ministro, entretanto, ficou em segundo plano por causa das palavras escolhidas por ele na hora de manifestar suas ideias.
Na última quarta-feira (6), o Banco Central (BC) cortou a Selic em 0,75 ponto percentual, para 3% ao ano, menor nível já registrado no país. A redução, contudo, não deve provocar grandes estímulos à economia durante a crise do coronavírus.
Como a pandemia tende a elevar o desemprego e a inadimplência no país, bancos veem mais riscos no horizonte e podem incrementar as exigências na hora de conceder crédito. Pesquisa recente confirmou essa situação. Em março, as taxas de juro voltaram a subir depois de dois anos no país, conforme a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
O otimismo de Guedes com a maior competição em setores diversos no país encontra um cenário repleto de desafios. Antes de incentivar a concorrência, o governo precisa agir para diminuir os estragos da pandemia. Ainda não há clareza sobre o tempo de duração da crise. O certo, dizem analistas, é que as recentes tensões políticas protagonizadas pelo Planalto servem apenas para dificultar a saída da recessão.