A coluna já vinha recebendo relatos inquietantes, mas nos últimos dias os casos foram se avolumando. Empresas e pequenos empreendedores que procuram crédito nos bancos, animados com os acenos do governo, de entidades e até das próprias instituições financeiras, saem desolados. Há dois grandes problemas: as taxas subiram, e a concessão de crédito ficou mais difícil. Isso, depois que o Conselho Monetário Nacional (CMN) abrandou exigências de reservas, o Banco Central (BC) cortou a taxa Selic em mais 0,5 ponto percentual, fez duas reduções na quantia de depósitos compulsórios e anunciou pacote com impacto de R$ 1,2 trilhão para dar liquidez (transformar ativos financeiros em dinheiro vivo). Então, qual é o problema?
– O risco aumentou – resumiu um banqueiro à coluna.
A justificativa é de que o preço do dinheiro, também conhecido como juro, é resultado da combinação entre custo e risco. O primeiro diminuiu milimetricamente e o segundo disparou. Embora pondere que não houve taxa duplicada, como chegou a ser relatado, essa fonte admite que o juro subiu, mesmo para clientes com bom histórico de pagamento. Outra situação desafiadora no sistema financeiro é de que as linhas de câmbio, para financiar exportações, praticamente desapareceram – "secaram", no jargão do setor. Exportadores gaúchos estão sendo incentivados a tomar recursos em reais para financiar operações em dólar em um momento no qual o futuro da cotação da moeda, mesmo o comercial, é uma incógnita.
Entre empresários, a reclamação é de que os bancos estão sendo "ultrasseletivos" na concessão de crédito, ou seja, aplicando a velha máxima, da qual os bancos não gostam, mas é real, que só sai empréstimo para quem provar que não precisa. Neste momento, porém, até isso está ocorrendo. Empresas em boa situação para enfrentar a crise estão buscando captar recursos preventivamente, porque aprenderam duas duras lições da crise de 2008: uma, de que quem tem dinheiro em caixa fica bem, outra, de que situações como a que o mundo atravessa oferecem risco de "empoçamento de liquidez". Isso significa que, embora os bancos centrais se esforcem para dar vazão ao crédito, os empréstimos não chegam na ponta porque os bancos têm medo de repassar e não receber os valores de volta.
Esse é um dos motivos pelos quais há muita críticas, tanto no setor produtivo quanto no setor financeiro, à demora na atuação do governo federal. Os adjetivos começam com "atrasado" e avançam para "péssimo" e "inerte". O pagamento de renda temporária aos informais só foi ampliado dos R$ 200 anunciados pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, para R$ 600 aprovados na quinta-feira à noite na Câmara dos Deputados por pressão parlamentar. No setor financeiro, circula a informação de que o governo federal vai anunciar em breve uma linha especial do Tesouro Nacional para os bancos. O órgão que representa o caixa da nação assumiria os riscos de até 80% de linhas de financiamento abertas para recursos a empresas que representam até quatro folhas de pagamento, essas sim com juro mais baixo.
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