Origem da onda de pânico que invadiu os mercados nesta segunda-feira, com interrupção de negócios nas bolsas do Brasil e de Nova York, a decisão do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) de cortar o juro de referência da economia americana para o intervalo de zero a 0,25% ao ano, como durante a crise de 2008, pressiona também o BC do Brasil. A decisão está prevista para a próxima quarta-feira (18), mas no mercado já existe expectativa de que possa ocorrer uma decisão extraordinária, antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).
Até a inesperada medida do Fed, o que se discutia no Brasil é se o corte seria de 0,25 ou 0,5 ponto percentual. Agora, além da expectativa de um anúncio extraordinário, as projeções subiram para até 1 ponto percentual de corte, o que levaria a taxa básica de juro no país a 3,25%.
A situação é tão fora do normal que os cinco maiores bancos do Brasil – Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú Unibanco e Santander – anunciaram, por meio da associação do setor, que vão "atender pedidos de prorrogação, por 60 dias, dos vencimentos de dívidas de clientes pessoas físicas e micro e pequenas empresas". A decisão abrange os contratos vigentes em dia e limitados aos valores já utilizados.
Enquanto isso, o setor privado ainda aguarda o anúncio de medidas "mais agressivas e contundentes", como já admitiu nesta segunda-feira (16). Com cancelamentos de aulas e de eventos em cascata, é hora de o governo federal fazer seu papel, sem perda de tempo.
Diretor-executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira acompanha há anos as decisões do Copom. Na sua avaliação, o BC do Brasil está em uma "sinuca de bico", porque a redução de juro terá como efeito colateral uma alta maior do dólar, o que provocaria inflação e traria problemas mais adiante. Esse efeito decorre principalmente da saída de investimentos estrangeiros no mercado financeiro do Brasil.
– O Copom está em uma sinuca de bico. Qualquer decisão que tome será justificável. Se cortar fundo, estará fazendo o que todos os BCs fizeram. Se não baixar, vai mostrar preocupação com a inflação, que é correta – pondera.
Como a reunião do Copom começa dentro de um dia, e a decisão sairá em dois, o executivo não considera provável um corte extraordinário:
– Pode trazer nervosismo ainda maior, dar o recado de que a situação está pior do que se imagina. Se a reunião fosse daqui a 15 dias, faria sentido. Como é entre amanhã e depois, não vejo necessidade de antecipar a decisão.
Sobre o tamanho do corte, Ribeiro de Oliveira ressalva que 1 ponto percentual é um passo muito ousado para o Brasil:
– Com a inflação para o ano estimada em 3,6%, se tirar 1 ponto percentual da Selic que está a 4,25%, teríamos juro de 3,25%, seria negativo (abaixo da variação da inflação). Juro negativo nos Estados Unidos e na Europa é uma coisa, no Brasil é bem diferente. Seria forçar a mão.
O que se espera das medidas a serem anunciadas pelo governo
– Alívio tributário e financiamento facilitado aos setores mais pesadamente atingidos, como o de empresas aéreas e indústria eletroeletrônica
– Uma das opções é usar recursos dos depósitos compulsórios no Banco Central como fonte desses financiamentos, exatamente para permitir maior prazo de carência (tempo entre a obtenção do dinheiro e o prazo de pagamento). Como os recursos ficam mesmo parados no BC, não haveria urgência na devolução
– Reforço na renda, especialmente de trabalhadores temporários, que dependem do crescimento da economia para garantir remuneração
– Estímulo a setores que tem capacidade de gerar muito emprego e ainda encomendas para outros segmentos, como a construção civil
Quer saber mais sobre o coronavírus? Clique aqui e acompanhe todas as notícias, esclareça dúvidas e confira como se proteger da doença. Para receber boletins por e-mail sobre o assunto — com duas edições diárias —, acesse www.gauchazh.com.br/boletimcoronavirus