A pandemia de coronavírus espalha riscos pelo mundo dos negócios e reforça a pressão por medidas que atenuem perdas na economia. No Brasil, depois de o Produto Interno Bruto (PIB) frustrar projeções em 2019, o ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu pacote de ações para minimizar prejuízos relacionados ao problema sanitário neste ano. Entretanto, até o início da noite desta sexta-feira (13), os projetos não haviam sido detalhados.
Economistas consultados por GaúchaZH reconhecem que as dificuldades fiscais do país enxugam o leque de opções para blindar a atividade. Mesmo assim, apontam possibilidades de estímulo, como redução no juro básico e novas condições de financiamento para empresas.
Guedes indicou nesta sexta-feira que examinaria propostas como a liberação de novos saques do FGTS. No mesmo dia, a Caixa Econômica Federal anunciou que destinará R$ 75 bilhões para capital de giro de pequenas e médias empresas, compra de carteiras e financiamento à produção agrícola.
Professor da UFRGS, o economista Marcelo Portugal avalia que novo corte no juro básico pode servir de estímulo à atividade em meio à tensão provocada pelo coronavírus. Hoje, a taxa Selic está em 4,25%, menor nível histórico. Responsável por definir o nível do juro básico, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC) tem nova reunião marcada para terça e quarta-feira.
Na visão de Portugal, o governo também pode levar adiante a liberação de mais depósitos compulsórios, a fim de melhorar condições de crédito. Esses recursos são depositados por bancos junto ao BC para que a quantidade de dinheiro no mercado seja controlada. Além disso, Portugal considera importante que o Banco Central mantenha intervenções "pontuais" para atenuar a velocidade de avanço do dólar ao longo de um mesmo dia.
— O tipo de medida a ser escolhida depende de cada momento. Hoje, as ações podem ser voltadas a condições de financiamento e baixa do juro. Seria bom focar em pequenas e médias empresas — pontua.
Professor da Pós-Graduação da UFRGS, Fernando Ferrari Filho sugere medida que segue caminho contrário ao discurso de austeridade fiscal de Guedes. Para o economista, o governo deveria rever o teto que limita o crescimento dos gastos públicos à inflação, em vigor desde a gestão de Michel Temer.
— É preciso flexibilizar o teto. Sem isso, é pouco provável que a economia saia pouco impactada pelo coronavírus. O governo está buscando implementar agenda de reformas, deve insistir nela. Mas não pode colocá-la como a salvadora da economia — diz Ferrari Filho.
Portugal discorda da ideia de mudar o teto de gastos. Para o professor, a manutenção da medida é necessária diante do "forte problema fiscal" do país.
Especialista no setor financeiro, o economista João Augusto Salles ressalta que, em razão das dificuldades das contas públicas, o governo não tem como abrir mão de receitas com corte de tributos. Para ele, nova redução na Selic e "flexibilização" de regras de depósitos compulsórios são opções para beneficiar financiamentos no país.
Na quinta-feira (12), o governo anunciou a antecipação para abril do pagamento de R$ 23 bilhões referentes à primeira parcela do 13º salário de aposentados e pensionistas do INSS.
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