Teria sido melhor esperar para apresentar todas juntas as medidas do governo federal para amenizar o impacto econômico do coronavírus no Brasil. O anúncio, na noite de quinta-feira (12), de antecipação de pagamento de metade do 13º salário para aposentados do INSS deu ideia de que o Ministério da Economia não estava preparado para enfrentar uma crise do tamanho que já se apresenta, quanto mais para prevenir novas perdas. Mal raiou esta sexta-feira (13), o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez um diagnóstico:
– Guedes não tinha uma coisa organizada ou não quis falar.
Dias antes, o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, havia afirmado à coluna que via o governo "paralisado" diante da crise. Ficou pior ainda porque, pouco antes, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) havia anunciado um programa de liquidez – rápida transformação de aplicações em dinheiro – de US$ 5 trilhões. Isso equivale a um quarto de todo o PIB americano e a mais de duas vezes todo o PIB anual do Brasil (segundo o Banco Mundial, US$ 1,8 trilhão em 2018). Foi essa dose cavalar que produziu a sexta-feira de trégua no mercado financeiro mundial. Em tempestades como a que abate bolsas e empresas nestes dias, melhor sacar alto, ou nem sacar.
Isso ficou tão evidente que, pouco depois de Maia se manifestar, o ministro Paulo Guedes se apressou em avisar que há mais de 20 medidas engatilhadas para apresentação entre esta sexta-feira (13) e a próxima segunda-feira (16). Avisou que não vai colocar em risco o equilíbrio fiscal, a inflação, o juro e o crescimento. Fará melhor se colocar todas sobre a mesa ao mesmo tempo, para mostrar poder de fogo. Embora as revisões das projeções para o crescimento do Brasil neste ano ainda estejam acima de 1%, pelos sinais de consultorias e setores de análise de instituições financeiras, há risco de que esse número ainda encolha muito. O que se espera das medidas a serem anunciadas:
– Alívio tributário e financiamento facilitado aos setores mais pesadamente atingidos, como o de empresas aéreas e indústria eletroeletrônica
– Uma das opções é usar recursos dos depósitos compulsórios no Banco Central como fonte desses financiamentos, exatamente para permitir maior prazo de carência (tempo entre a obtenção do dinheiro e o prazo de pagamento). Como os recursos ficam mesmo parados no BC, não haveria urgência na devolução
– Reforço na renda, especialmente de trabalhadores temporários, que dependem do crescimento da economia para garantir remuneração
– Estímulo a setores que tem capacidade de gerar muito emprego e ainda encomendas para outros segmentos, como a construção civil