O cenário de pânico no mercado financeiro atingiu outro patamar nesta quinta-feira (12). A bolsa de valores de São Paulo, a B3, fechou a 72.582 pontos, registrando tombo de 14,78%, o maior desde 10 de setembro de 1998. Assim, a queda supera a de segunda-feira (9), quando o índice Ibovespa caiu 12,17%.
Por duas vezes as negociações foram interrompidas pelo acionamento do circuit breaker, algo que ocorreu pela última vez em outubro de 2008. O avanço da pandemia de coronavírus, que levou o governo dos Estados Unidos a suspender voos vindos da Europa por 30 dias, e a piora das perspectivas para a economia global mais uma vez influenciaram o resultado no Brasil e nas bolsas asiáticas, europeias e norte-americanas.
Na B3, o mecanismo foi acionado pela primeira vez logo após a abertura do mercado, quando, às 10h21min, o Ibovespa caía mais de 11%. Após meia hora de pausa, o pregão retomou mantendo o viés de queda. Às 11h13min, o índice baixava mais de 15% e houve nova interrupção, desta vez por uma hora.
Depois da retomada das transações de compra e venda, no início da tarde, o indicador chegou a despencar 19%, o que por pouco não forçou o terceiro intervalo. O anúncio do Federal Reserve (FED), o banco central dos Estados Unidos, com a oferta de mais de US$ 1,5 trilhão em operações para dar liquidez ao mercado, atenuou a situação e fez com que o Ibovespa reagisse. Nesta semana, o circuit breaker já havia ocorrido na segunda e na quarta-feira.
Além dos fatores externos, a relação tensa entre o Congresso e o governo Jair Bolsonaro também pesou para aumentar o clima de tensão na bolsa brasileira, avalia o economista-chefe da Geral Asset, Denilson Alencastro. Na quarta-feira (11), sessão conjunta de deputados federais e senadores derrubou veto de Bolsonaro e aumentou limite de renda para acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), medida com impacto fiscal estimado em R$ 20 bilhões.
— Mas o principal fator de peso ainda é o internacional. O Brasil tem uma economia que já não cresce muito em condições normais. Agora, com uma questão de impacto internacional, o problema é maior — afirma Alencastro.
Dólar renova recorde nominal
Enquanto a bolsa desabava, o dólar comercial chegou a romper a faixa dos R$ 5 pela primeira vez na história. A máxima do dia, de R$ 5,014, foi registrada durante a manhã. Com a intervenção do Banco Central (BC), através de leilões de contratos cambiais, a cotação da moeda norte-americana cedeu e fechou o dia avaliada em R$ 4,786. Mesmo assim, o valor renova o recorde de maior cotação nominal da história do Plano Real e representa alta de 1,38% frente ao dia anterior.
—A ação do BC ajudou o dólar a não fechar acima de R$ 5, mas não muda muito a trajetória da moeda. O cenário externo está muito ruim, não dá para se dizer que o pior já passou — acredita Alexandre Cabral, economista e professor do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais em São Paulo (Ibmec-SP).
Para Cabral, o mercado deverá seguir com oscilações bruscas nos próximos dias. Conforme evolua a pandemia de coronavírus e os resultados das empresas sejam afetados pela desaceleração da atividade econômica, o professor não descarta que o dólar feche acima de R$ 5.