Com os mercados financeiros operando em clima de 2008, com quedas bruscas seguidas de fortes altas (veja gráfico abaixo), para mergulhar novamente, como nesta segunda-feira (16), o que pode evitar mais um ciclo de recessão pelo mundo é a atuação dos governos. No Brasil, até agora, há três medidas anunciadas: a antecipação de metade do 13º dos aposentados pelo INSS, a oferta de até R$ 70 bilhões em crédito da Caixa Econômica Federal e a ação do Conselho Monetário Nacional (CMN) para que os bancos facilitem a renegociação de dívidas anunciada nesta manhã. Na sexta-feira (14), o ministro da Economia, Paulo Guedes, prometeu anunciar cerca de 20 iniciativas em até 48 horas.
Todas estão no sentido correto, só ainda não são suficientes. Até no mercado financeiro já se debate a necessidade de algum tipo de flexibilização da regra do teto de gastos para enfrentar não só a turbulência do mercados, mas os efeitos na economia real que começam a ficar cada vez mais claros. O Indicador Antecedente Composto da Economia Brasileira recuou 0,8% em fevereiro para 119,2 pontos, após atingir o pico da série histórica em janeiro. O índice agrega oito componentes econômicos que medem a atividade econômica no Brasil, calculado em parceria entre a FGV Ibre e The Conference Board (TCB).
– Há preocupação sobre até que ponto a pandemia de coronavírus pode derrubar a atividade econômica no Brasil e no mundo, especialmente em um momento em que as empresas estão alavancadas (com grandes dívidas). Existe o risco de uma situação de inadimplência generalizada. Por isso é importante que o Banco Central corte o juro básico e que sejam criadas linhas de crédito para que as empresas possam honrar seus compromissos. A questão, agora, é evitar a todo custo a crise financeira que marcou 2008 – avalia Newton Rosa, economista-chefe da SulAmerica Investimentos.
Nos mercados, pondera o economista, a turbulência deve continuar porque ninguém tem clareza sobre a evolução da doença. A forte incerteza, lembra, não é um ambiente propício a ativos de risco como bolsa e títulos da dívida de países emergentes como o Brasil.
– A turbulência só seria contida se houvesse um líder mundial que comandasse uma ação concertada entre as grandes nações, mas não se vê isso. Cada um tenta usar as medidas que considera mais convenientes para o momento.Falta um estadista, que se sente à mesa e lidere, sendo reconhecido mundialmente como um líder capaz de guiar sociedade nesse emaranhado.
Economista-chefe da corretora Necton, André Perfeito também adverte sobre a necessidade de medidas econômicas mais abrangentes:
– Caberia uma ação mais enérgica dos bancos públicos, neste momento, para irrigar diretamente o tecido econômico. Algumas medidas já foram adotadas pelo Ministério da Economia, mas ainda são insuficientes, porque se trata de dar suporte à economia durante um a dois meses.
O que se espera das medidas a serem anunciadas
– Alívio tributário e financiamento facilitado aos setores mais pesadamente atingidos, como o de empresas aéreas e indústria eletroeletrônica
– Uma das opções é usar recursos dos depósitos compulsórios no Banco Central como fonte desses financiamentos, exatamente para permitir maior prazo de carência (tempo entre a obtenção do dinheiro e o prazo de pagamento). Como os recursos ficam mesmo parados no BC, não haveria urgência na devolução
– Reforço na renda, especialmente de trabalhadores temporários, que dependem do crescimento da economia para garantir remuneração
– Estímulo a setores que tem capacidade de gerar muito emprego e ainda encomendas para outros segmentos, como a construção civil
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