O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
Um indicador lançado neste mês sinaliza que o coronavírus já impactou a economia mundial. Criado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o Barômetro Econômico Global aponta que a atividade atingiu o menor nível desde 2009. Com base em dados até fevereiro, o estudo foi elaborado em parceria com o Instituto Econômico Suíço KOF. A seguir, o pesquisador da FGV Aloisio Campelo Junior analisa os riscos que a pandemia traz para o Brasil.
Qual é o cenário que o novo indicador revela para a economia mundial?
O indicador tenta antecipar o comportamento do PIB (Produto Interno Bruto) mundial. Após a crise de 2008 e 2009, o índice mostra que a economia teve taxa constante de crescimento de cerca de 3%. Agora, descambou. O indicador sinalizou que, a partir de fevereiro deste ano, o PIB mundial passou a crescer de forma mais lenta.
O freio está relacionado ao coronavírus na China?
A economia mundial estava desacelerando desde o ano passado, mas era uma aterrissagem suave. Na virada do ano, havia expectativa de aceleração. Atribuo a reversão dessa tendência, em fevereiro, ao coronavírus. O problema fez o governo chinês paralisar cidades industriais, com repercussão nos países vizinhos.
Quais são os principais riscos que a pandemia traz para a economia brasileira?
Um é a redução da demanda em razão de paralisação de setores econômicos. As pessoas não circulam tanto, a produção cai. A cadeia mundial de suprimentos é afetada. Algumas empresas já estão sentindo. A indústria brasileira, até agora, está conseguindo se virar, talvez substituindo insumos que antes vinham da China.
O que o governo federal pode fazer para atenuar prejuízos?
A primeira medida é dar apoio total ao segmento de saúde. O país vai ter de gastar mais. É preciso liberar rapidamente recursos, mesmo com as dificuldades fiscais. O país também vai ter de tomar medidas que vão provocar alguma paralisação, evitando aglomerações. Isso vai gerar queda no nível de atividade muito expressiva. É possível que algumas medidas que o governo vem estudando ajudem, como acelerar a liberação de recursos do FGTS, facilitar a concessão de empréstimos. Se o cinema ficar vazio, como ficará o pipoqueiro que trabalha na porta? Vai conseguir gerar receita? Linhas de crédito podem ajudar neste momento. Queda na atividade é inevitável em março, abril ou maio, mas a ideia é de que o impacto seja minimizado. Uma das coisas que o governo pode tentar fazer é suavizar o ciclo econômico. Temos forte choque na economia. O governo tem de evitar que os agentes entrem em bancarrota.
Como resume o cenário para os próximos meses?
Existe grau de incerteza muito grande em todo o mundo. O cenário é de meses muitos difíceis em março, abril e até em maio na economia. Se em seguida entrarmos em fase de declínio nos casos de infecções, como na China, teremos segundo trimestre fraco, mas poderemos voltar a crescer no terceiro. Só no quarto trimestre a economia poderia retomar rota mais forte de crescimento. Seria interessante que o governo fizesse logo a reforma tributária. Aí, em 2021, voltaríamos ao caminho para tentar crescer na casa de 2%. Antes do vírus, já tínhamos problemas suficientes.
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