Nesta quarta-feira (11), as bolsas europeias já estavam fechadas quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou que a doença respiratória provocada pelo coronavírus, a covid-19, havia se tornado uma pandemia mundial. Pouco mais de uma hora depois, a bolsa de valores do Brasil foi obrigada a interromper os negócios, que desabavam 10,11%. Parou por meia hora, como preveem as regras, e retomou por volta de 15h45min. Chegou a aprofundar a queda para 12%, mas acabou fechando com perdas de 7,64%. O dólar, mais contido, subiu 1,61%, para encerrar a R$ 4,721.
A B3, marca que identifica a bolsa brasileira, acompanhou o comportamento de sua principal referência externa, a bolsa de Nova York. O índice Dow Jones Industrial, o mais tradicional, já operava com forte declínio, perto de 3%, e também aprofundou as perdas até pouco acima de 6%, para depois fechar em queda de 5, 85%.
Além da declaração de pandemia, que não pode ser considerada uma surpresa para um universo que procura antecipar os fatos, contribuíram para o nervosismo do mercado financeiro a frustração com o pacote de estímulo nos Estados Unidos e a decisão da Saudi Aramco, petroleira estatal da Arábia Saudita, de elevar ao máximo a produção, voltando a derrubar em 3,57% a cotação do petróleo.
Apesar dos dias de pânico no mercado se parecerem com os ocorridos a partir de 15 de setembro de 2008, analistas avaliam que ainda há mais diferenças do que semelhanças entre os episódios. Conforme o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega, há 12 anos ocorreu uma crise financeira que pegou o mercado pouco preparado em termos de estrutura de capital e gestão de risco. As instituições financeiras haviam feito empréstimos em excesso sem calcular adequadamente a capacidade de pagamento dos clientes.
– Houve quebra de uma quantidade enorme de bancos e uma contração forte do crédito, com grande ampliação das incertezas. Isso contribuiu para reduzir o investimento e o consumo, jogando o mundo no que chamamos de Grande Recessão. Agora, temos uma crise derivada de uma doença, que tem implicações em cadeia no setor privado, com choques de oferta e de demanda. Mas o mundo está mais preparado para lidar com isso – avalia o ex-ministro.
O circuit breaker é uma ferramenta de segurança disparada quando ocorrem reações negativas atípicas nos preços das ações, geralmente decorrentes de momentos de extremo nervosismo ou pânico, por sua vez reforçados pelo chamado "comportamento de manada", irracional. A intenção é dar um tempo para que os operadores recuperem a racionalidade nos negócios e, assim, evitar uma queda mais acentuada.
Antes de segunda-feira, o mais recente acionamento do circuit breaker no Brasil havia ocorrido em 18 de maio de 2017, depois da divulgação de um diálogo comprometedor entre o então presidente Michel Temer e um dos donos da JBS, Joesley Batista. Na data, os negócios ficaram parados por meia hora antes da retomada. Foi a primeira vez depois da crise global de 2008, quando foi necessário recorrer ao mecanismo com frequência incomum.
Como o circuit breaker funciona no Brasil
Com queda de 10%: ocorre a primeira parada, de 30 minutos.
Caso a queda se aprofunde até 15%: se depois da primeira pausa o declínio se aprofundar, uma nova interrupção ocorre quando o Ibovespa cair 15%.Nesse caso por mais uma hora.
Caso chegue a 20%: se depois de uma hora sem negociações a queda seguir e alcançar 20%sobre o dia anterior, a Bovespa volta a travar a operação e decide o prazo de suspensão.
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