O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A produção da indústria nacional patinou no ano passado, com baixa de 1,1%. Para 2020, o cenário reúne mais elementos de otimismo, apesar da existência de riscos, diz Carlos Abijaodi, diretor de desenvolvimento industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Na entrevista a seguir, ele destaca possíveis reformas no país e tensões no mercado internacional.
A produção industrial caiu no Brasil em 2019. Como analisa o resultado?
Tivemos alguns desastres como o de Brumadinho. O minério de ferro é um dos principais itens da nossa pauta exportadora. O desastre foi uma das razões da queda da produção industrial. Temos de acrescentar o cenário externo que ainda estamos vivendo. Houve problemas com a guerra comercial entre China e Estados Unidos, protecionismo em alguns países. Mas existem outros sinais que nos ajudam a apresentar visão um pouco mais otimista para a indústria.
Quais?
Houve melhora na confiança da população, dos empresários. É muito importante para novos investimentos e aumento do consumo. Ao mesmo tempo, o desemprego diminuiu um pouquinho. Temos ambiente favorável, mas a realidade ainda não é essa. O ambiente está sendo transformado. A situação deve melhorar em 2020. Existe disposição para investir. Apesar das dificuldades, a indústria conseguiu reduzir a ociosidade. Os estoques começaram a diminuir.
Por quais projetos passa a reação da indústria?
A dificuldade da indústria é a de competitividade. O governo federal está conseguindo encaminhar propostas importantes para o setor. A reforma da Previdência é uma das que já foram aprovadas, importante para toda a economia. A tributária é essencial, não resta dúvida. É preciso vir também a reforma administrativa, que vai liberar recursos para investimentos. O Brasil depende de mudanças estruturais, de melhoria na infraestrutura. Há dever de casa a ser feito. O caminho parece que está certo.
O governo Jair Bolsonaro se envolveu em atritos com o Congresso em 2019. É algo que preocupa para 2020?
Todos os governos que instalam mudança de visão trazem adequação natural. Os quadros são recompostos. O desconhecimento entre as partes traz dificuldade maior no início. Tivemos embates entre Executivo e Legislativo. Mas, hoje, com a visão focada na recuperação da economia, que passa pelas reformas, existe consenso de que os dois devem trabalhar juntos.
O cenário externo segue marcado por tensões. Quais são os riscos para a indústria?
A indústria vive do comércio. No caso do Brasil, dependemos e queremos participar mais do mercado internacional. Realmente, o cenário externo vem causando visão hesitante. A situação do Oriente Médio é sempre mais sensível. A disputa do Irão com os Estados Unidos foi contida. Já o coronavírus parece que está sendo controlado a cada dia. Mas não posso dizer que o comércio internacional não será afetado. Se isso ocorrer, vai afetar a indústria. Hoje, o Brasil participa de cadeias globais. Parte dos produtos não é feita em um só país. Então, pode ser sentida falta de algumas peças ou até de produtos finais. Esses itens vão ficar na linha de montagem esperando.