O sentimento de angústia ronda a indústria. Depois de a recessão derrubar a atividade produtiva, as fábricas brasileiras seguem apresentando números inferiores aos tímidos resultados do restante da economia. Prova disso é o desempenho do setor no primeiro trimestre.
No período, a indústria caiu 0,7%, enquanto que o Produto Interno Bruto (PIB) teve baixa de 0,2%. Foi o pior resultado entre o trio de setores produtivos, também formado por agropecuária e serviços.
– É um momento de apreensão. A indústria aguarda o tiro de largada. Está na linha de partida, doida para começar a corrida, mas não passa do aquecimento – descreve Flávio Castelo Branco, gerente-executivo de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Como o recuo entre janeiro e março foi o segundo consecutivo, o setor retornou ao que analistas chamam de recessão técnica. Entre outubro e dezembro do ano passado, a queda na atividade nas fábricas havia sido de 0,3%.
– A indústria está patinando desde o final de 2018. Com o resultado das eleições, esperava-se mais rapidez no avanço de reformas e no crescimento da economia – observa Castelo Branco.
A demora para espantar a crise preocupa analistas, em parte, pelo fato de o setor ser intensivo em mão de obra. Além disso, estabelece forte relação comercial com os demais segmentos da economia.
Entre 2013 e 2017, as fábricas do país perderam 1,3 milhão de empregos, conforme pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O número equivale a quase toda a população de Porto Alegre, estimada pelo IBGE em 1,4 milhão de pessoas.
No curto prazo, analistas não enxergam sinais de melhora consistente no quadro. Em abril, a produção industrial subiu 0,3% no país, mas ainda registrava queda de 2,7% no acumulado dos quatro primeiros meses do ano.
Castelo Branco avalia que a retomada robusta só virá a partir de mudanças na Previdência e no sistema tributário, mas cobra mais velocidade do governo em ações fora da agenda de reformas. As medidas incluem concessões e projetos para desburocratizar o setor produtivo, além da busca pelo Banco Central (BC) por redução nas taxas de juro no país, explica o analista.
O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) apresenta análise similar. Em nota, aponta que o setor sofre com a falta de "condições favoráveis para a produtividade".
– O governo está muito centrado na Previdência. Mas há impaciência no setor empresarial pelo andamento de medidas que gerem aumento de competitividade, com redução de custos e financiamento – pontua Castelo Branco.