A proposta de criar uma moeda comum entre Brasil e Argentina, que voltou a ser discutida em Buenos Aires na quinta-feira (6), é baseada em uma ideia acalentada na década de 1990 pelo ex-ministro da Economia argentino Roberto Lavagna e o atual economista-chefe do BNDES, Fábio Giambiagi, que nasceu no Brasil mas é filho de argentinos. Consultado pela coluna sobre a viabilidade da ideia hoje, Giabiagi reagiu assim:
– É um não assunto. Não há a menor condição para discutir essa possibilidade com a Argentina tendo inflação de 50% e o Brasil, de 4%. Se tivesse, seria um projeto de longuíssimo prazo. Deveria ser comentado pelos presidentes quando já tivesse avançado muito, não dessa forma.
A proposta de Giambiagi e Lavagna foi inspirada no bem-sucedido lançamento do euro, a moeda comum adotada hoje por 19 dos 28 países da União Europeia. Nos anos 1990, embutia a ideia de aumento de controle das finanças públicas e maior integração. No entanto, Giambiagi hoje é um crítico da própria proposta porque a existência do euro foi um dos motivos do aprofundamento da crise na Europa a partir de 2011.
– Em função do que aconteceu com a Grécia, os defensores da ideia, inclusive eu, que trabalhei na proposta no passado, perceberam os problemas dramáticos que podem decorrer de uma área monetária comum imperfeita – afirma Giambiagi.
O economista diz não ter a menor ideia de como a ideia foi resgatada na reunião do Mercosul em Buenos Aires. Lembra, ainda, que a Argentina está às vésperas de uma eleição, com chances não desprezíveis de não reeleger o atual presidente, Maurício Macri.
– Imaginemos que em três meses, Alberto Fernandéz (candidado a presidente com Cristina Kirchner de vice) se eleja. O governo brasileiro vai continuar a ter interesse na moeda comum?
A reunião de Buenos Aires teve toques saudosistas. Além de resgatar a ideia da moeda comum, outro projeto dos anos 1990 foi tirado da gaveta: a construção de duas hidrelétricas na fronteira com a Argentina, no Rio Grande do Sul. O megaprojeto Garabi não se tornou viável na época em que os dois países tinham situação mais estável. Na quinta-feira, voltou a ser citado como um projeto comum entre os dois países pelo presidente Jair Bolsonaro.