O jornalista Leonardo Vieceli colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço.
A queda de 1,1% da produção da indústria em 2019 mostra que o setor está "muito longe" de recuperar as perdas da última recessão, avalia Rafael Cagnin, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Confirmado nesta terça-feira (4), o resultado preocupa pelo fato de refletir recuos em segmentos diversos das fábricas.
Responsável pelo levantamento, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que houve quedas em 16 dos 26 ramos pesquisados. A maior perda, de 9,7%, foi a do segmento extrativo, abalado por fatores como o desastre de Brumadinho (MG).
— Por mais que o ramo extrativo tenha influenciado o resultado geral, o desempenho não foi bom como um todo. O ano de 2019 foi de frustração do ponto de vista da produção industrial — define Cagnin.
O economista também aponta dificuldades de financiamento no país. Mesmo com o juro básico no menor nível histórico, o encolhimento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também provoca inquietações no setor industrial.
Visto como fonte de financiamentos de longo prazo, em áreas como a de infraestrutura, o banco vem sendo alvo de polêmicas no governo Jair Bolsonaro. Desde que assumiu o poder, o presidente deseja abrir uma suposta "caixa-preta" da instituição. Contudo, auditoria recente não encontrou esquemas de corrupção em contratos do BNDES além das suspeitas já conhecidas. O episódio deflagrou nova crise, colocando na berlinda o presidente do banco, Gustavo Montezano.
— Estamos passando por mudança no país, com encolhimento do BNDES. Mas, ao que tudo indica, fontes alternativas de financiamento não foram suficientes para dar conta da situação — observa Cagnin.
Para que a indústria ganhe fôlego, empresários esperam o avanço de projetos prometidos pelo governo. Entre as propostas aguardadas está a da reforma tributária.
— Temos de parar de olhar só para o ano mais recente. Se pegarmos período anterior, de 2011 a 2019, a produção da indústria praticamente não cresceu. Só houve avanço significativo, acima de 2%, após crises, com base de comparação mais baixa. O ano de 2019 se insere em quadro frustrante — analisa Cagnin.