A compra de 40% da gaúcha Vibra, das marcas Nat e Avia, pela Tyson Foods, anunciada em 2019, teve contrato assinado na semana passada, em Montenegro. Desde 1997, a indústria de aves controlada pelas famílias que criaram a Frangosul, era parceira da Cobb, subsidiária da Tyson, no segmento genético. Só agora os sócios gaúchos se sentem à vontade para revelar os planos abertos pelo negócio: expansão industrial no Brasil, para aumentar exportações para Ásia e Europa, onde a gigante americana comprou pedaços vendidos pelas brasileiras BRF e Marfrig. Vai haver crescimento orgânico, mas a Vibra também está buscando aquisições. O CEO, Gerson Luis Müller, e o diretor de marketing e vendas, Flavio Wallauer, avisam que têm recursos para fazer aquisições, especialmente no Sul. A maioria das perguntas foi respondida por Müller, quando a resposta for de Wallauer, estará indicado. A empresa tem hoje 4,5 mil funcionários e cerca de 3% do mercado nacional, com faturamento anual de R$ 1,5 bilhão. Sabe que não chegará aos volumes do duopólio nacional (BRF e JBS), mas vê espaço para crescer 70% em cinco anos.
Qual foi a origem do negócio?
Como havia essa parceria com a Cobb, quando passamos a buscar equity (compradores de parte da empresa), era preciso pedir autorização para uso do nome. Portanto, eles sabiam que estávamos buscando uma operação e pediram para olhar a proposta. Começaram a entender que queriam se internacionalizar mais, já são muito grandes nos Estados Unidos. Esse movimento pode ser identificado pela compra da BRF Europa. A parceria com a Vibra está dentro da estratégia de crescimento internacional.
Havia preocupação com a peste suína no começo das conversas?
Já, mas bem no início. Começou em meados de 2018. Na época, falava-se que ia atingir 20% do plantel da China. Acabou sendo cerca de 70%. Valorizou todas as proteínas, mas a de frango foi a que menos subiu.
Wallauer: A China tem um comportamento muito especulativo para a carne de frango. O preço oscila muito. Eles têm política governamental de estoques, com interferência forte.
Ajudou a valorizar a Vibra?
Sim e não. Ajudou a melhorar os resultados da Vibra no ano passado. Isso valorizou o negócio, mas não foi o fundamental e sim o conhecimento prévio, a confiança deles na empresa, o relacionamento de muitos anos e como colocamos o produto nas gôndolas. Eles gostaram desse projeto. A Tyson entrou nas duas pontas: primeiro com investimento e também em mercados. Os dois principais focos, na largada, serão atender a Europa, na operação comprada da BRF, e a Ásia, por meio da Keystone, que era da Marfrig e foi comprada pela Tyson. A Tyson tem muita tecnologia, é a principal empresa em desenvolvimento de novos produtos, não só de frango, também de suíno, bovino e alimentos congelados. Eles têm um centro, com 19 cozinhas industriais, desenvolvem para marcas como Burger King e McDonald's. Temos um centro aqui, que é um embrião, para atender aos clientes.
A Vibra tem produção no Estado?
Não temos abates no Estado, produzimos ovos férteis. A sede ainda está no Rio Grande do Sul. Os frigoríficos que temos estão em Pato Branco e Itapejara d' Oeste, ambos no Paraná, e em Sete Lagoas (MG). Compramos lá porque foi uma proposta boa e ficamos quase na região metropolitana de Belo Horizonte, perto de São Paulo e Rio de Janeiro. O custo logístico é muito caro, principalmente o de produtos resfriado, (não congelados). Mas claro, temos muito interesse aqui no Estado. Somos gaúchos, a matriz da empresa é aqui, queremos estar aqui.
Pensam em fazer aquisições no Estado?
Se der, queremos comprar empresas no Estado. Faremos quando conseguirmos fechar um bom negócio. Não dá para pagar um absurdo, tem de negociar. Já olhamos várias, mas ainda não conseguimos fechar. Sempre deixamos a porta aberta. Primeiro temos de negociar com o eventual vendedor, depois com município e Estado, porque como o projeto é de crescimento, sempre vai haver questões ambientais. Atualmente, o Estado não pode ajudar financeiramente, mas pode ajudar nos processos ambientais, é o máximo que se consegue. O tempo depende de quem quiser vender. Nós já tentamos alguns negócios, mas por algumas razões, normalmente preço, não conseguimos.
Há um valor definido para aquisições?
Não, está mais relacionado a preço e volume embutido. Se o valor é baixo, tem um recurso que está alocado. Se for muito alto, vamos buscar mais no mercado ou no sócio, que tem um pouco mais de capital do que nós (risos). A Tyson tem faturamento de US$ 40 bilhões.
Quanto a exportação representa no total?
60%. Nós retornamos para o negócio de abate de frangos em 2009 exportando 90%, fizemos meio que na contramão e era o que sabíamos fazer, quando nós voltamos, ganhamos mais mercado interno. Por isso que se voltou, pois tínhamos conhecimento técnico e recursos para investir.
A Vibra segue sob controle das famílias Müller e Wallauer?
Sim, as mesmas que lá atrás fundaram a Frangosul. Somos a terceira geração, que tem um participante do conselho e dois na direção executiva (Gerson e Flávio). Foi positivo para a parceria com a Tyson ter governança, sistemas de controle.
Há metas para aumentar a exportação para Europa e Ásia?
Não há meta, queremos crescer. A Tyson tem conhecimento de mercado e escritórios em todo o mundo. Quando precisarmos de informação, teremos apoio dessa infraestrutura. Agora que está tudo oficializado, eles já dizem 'há clientes nossos que compram bilhões, gostaríamos que vocês os atendessem'. Ter mercado interno forte ajuda a formar volume exportável. O Brasil se especializou muito na produção.