Depois de ter disparado 17,7% em dezembro, o preço da carne aumentou mais 4,8% em janeiro, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) divulgado nesta quinta-feira pelo IBGE. O resultado do mês em curso é uma espécie de prévia do índice oficial do Brasil, o IPCA, que serve de base para as decisões do Banco Central (BC) sobre juro. No primeiro mês do ano, o IPCA-15 subiu 0,71%, maior resultado para o período desde 2016. Em dezembro de 2019, esse indicador havia fechado com salto de 1,05%, o mais alto desde junho de 2018, durante a greve dos caminhoneiros.
Não era exatamente o que os analistas esperavam. O preço da carne frequentou órbitas menos estratosféricas, mas ainda foi o item responsável pela maior contribuição individual no índice, com com 0,15 ponto percentual. Isso significa que, se a carne saísse do cálculo, a inflação mensal seria de 0,56%, mais perto do seu "antigo normal".
Os dados foram vistos de forma muito diferente por analistas. Um grupo considera que a inflação voltou a ficar "comportada", apesar de ter ficado perto das expectativas máximas. Para esses economistas, 4,8% de aumento na carne representa "relativa estabilidade". A questão é que, se o resultado do mês se repetisse ao longo de todo o ano, a inflação fecharia 2020 em 4,34%, perto do centro da meta do BC no período (4%).
Por isso, desde esse ponto de vista, poderia haver novos cortes no juro, a começar pela próxima reunião, nos dias 4 e 5 de fevereiro. A taxa básica, já na mínima histórica de 4,5%ao ano, poderia ser reduzida em mais 0,25 ou até 0,5 ponto percentual. Uma das justificativas para essa expectativa foram os indicadores de novembro de 2019, que vieram abaixo do esperado e sugeriram que a atividade econômica não está tão acelerada quanto se previa.
No entanto, não poucos relatórios de bancos e corretoras avaliam que, se começou a "reversão do choque de proteínas" do final de 2019, os preços subiram bastante em vários segmentos. Os pontos de atenção estão na alimentação fora do domicílio e aluguel. Quem vê dessa forma considera que "a inflação pode não ser tão benigna" quanto nos últimos anos, especialmente se houver aquecimento do mercado de trabalho e da atividade econômica. Logo, a reuniã0 do BC que ocorre dentro de menos de 15 dias será uma das menos previsíveis dos últimos meses.