O indicador conhecido como prévia da inflação, o IPCA-15, fechou dezembro com alta de 1.05%. Para comparar, é quase 10 vezes maior do que o mesmo índice de novembro, que foi de escassos 0,14%. Também foi o maior resultado mensal desde junho de 2018, quando havia avançado 1,11% na esteira do desabastecimento provocado pela greve dos caminhoneiros. A vilã da vez é a carne, que subiu mais 17,7%. Como se trata da antecipação do IPCA, a consulta de preços é feita de 12 de novembro ao último dia 11, mas corresponde ao mês que encerra o ano.
A disparada na inflação foi pior do que a esperada. A média das projeções para o IPCA-15 divulgado nesta sexta-feira pelo IBGE era de 0,96%. Desde que a palavra "cautela" apareceu no comunicado e na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), que cortou o juro básico em mais 0,5 ponto percentual, o mercado aguardava com ansiedade o resultado do IPCA-15, porque o BC havia evitado se comprometer, deixando a porta aberta tanto para a manutenção dos cortes quanto para a interrupção. É sinal de que a expectativa do ministro Paulo Guedes, de manter dólar alto e juro baixo "por um bom tempo" pode ser pouco realista.
Embora a prévia da inflação oficial tenha fechado 2019 ainda baixa, em 3,91%, foi beneficiada pelo acumulado no ano. Daqui para a frente, se tudo der certo, deve começar a refletir os efeitos no consumo da retomada da economia. Até agora, o que segurou os preços foi a inapetência dos consumidores, provocada pelo desemprego alto e pelos ecos da recessão de 2014 a 2016. A primeira leitura é de que esse IPCA-15 pressionado deve encerrar o ciclo de cortes na taxa Selic, iniciado em dezembro de 2017.