Em entrevista publicada neste domingo (1º) no jornal O Globo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez autocrítica sobre a forma como citou o AI-5. Disse preferir ficar mais na esfera econômica, "porque toda vez que saio não sou bem compreendido". E recitou, talvez sem ironia, desta vez, seu compromisso democrático:
– Eu celebro a nossa democracia como sociedade aberta em construção. Eu tenho certeza de que o Congresso, a mídia, o presidente, nós estamos no caminho. Ordem é Estado democrático de direito.
Ufa. Agora, só falta que o ministro repense outra frase, pronunciada no mesmo dia:
– É bom se acostumar com juros mais baixos e com câmbio mais alto por um bom tempo.
Acentuou a alta do dólar e, menos de 48 horas depois, a Petrobras aumentou o preço da gasolina nas refinarias em 4%, com repasse quase imediato para os consumidores nos postos de revenda. Como se sabe, a Petrobras corrige seus valores conforme a cotação internacional do petróleo e a da moeda americana. Não precisa doutorado em Chicago
para saber que, em países como o Brasil, fortes altas no dólar elevam preços, e portanto,
a inflação. Para domá-la, o que o Banco Central tem a fazer é elevar o juro.
Só o estado de inanição da economia, depois da Grande Recessão, permitiu que o dólar subisse sem grande impacto na inflação. Certamente, o ministro não espera que a crise siga para garantir "bom tempo" com dólar alto e juro baixo. Menos dependente do câmbio, e mais do mercado chinês, o preço da carne decola.
Em outubro, conforme o IBGE, havia subido apenas 0,64%. Em novembro, disparou 17% até agora, segundo o Iepe-UFRGS. Apesar da redução de consumo pelas famílias, que começam a mudar hábitos de consumo, essa alta da carne vai se refletir na inflação. Se o Brasil precisa de um choque de eficiência, seu ministro necessita um de intensivo em vida real. É de seu maior interesse.