– Dá impressão de crise cambial quando isso não existe – diagnostica Sidnei Nehme, um dos analistas de referência quando o assunto é câmbio no Brasil, nesta terça-feira (26) em que a moeda americana sobe 1,4%, para ser cotada a R$ 4,27 no início da tarde.
Embora dados sobre a movimentação de dólares no Brasil tenham provocado nervosismo no mercado de câmbio, Nehme lembra que a moeda americana está batendo sucessivos recordes nominais, mas ainda está longe da máxima real histórica.
O especialista explica que, se o valor atingido em 27 de setembro de 2002, de R$ 3,99, fosse atualizado pelas inflações brasileiras e americanas, estaria hoje entre
R$ 8 e R$ 10 – a variação depende da metodologia aplicada na correção –, ou seja, mais do que o dobro da cotação atual.
– Guedes fez uma a declaração infeliz, que um ministro nunca deve dar, e precipitou a subida. Criou essa disfuncionalidade, para não dizer especulação – pondera Nehme.
Na mesma entrevista em que afirmou que ninguém deveria se assustar "se alguém pedir
o AI-5", Guedes também fez outra frase de efeito, ao dizer que "é bom se acostumar com juros mais baixos por um bom tempo e com o câmbio mais alto por um bom tempo".
O "efeito", no caso, foi a alta desta terça-feira, que resistiu até a uma intervenção do Banco Central (BC), que os agentes de mercado vinham pedido há dias, desde a frustração do leilão do pré-sal por falta de interesse de investidores estrangeiros.
Segundo Nehme, isso ocorreu porque o BC fez uma oferta tímida, abaixo da expectativa. A alta que se seguiu, portanto, equivale a um pedido por uma dose maior. Na avaliação do especialista, a alta recente começou logo após o que chama de "insucesso" do megaleilão do pré-sal e tem componentes externos, como a guerra comercial entre Estados Unidos e China e os episódios de tensão social na América do Sul. No entanto, pondera que há um fator interno poderoso:
– Estamos em fase de transição. Tivemos a saída recente do Brasil dos capitais especulativos, com a queda do juro. O país deveria, ao mesmo tempo, ter criado ambiente para atrair capital de qualidade, mas isso não aconteceu. Tivemos atrasos na reforma da Previdência, das privatizações. Então há um hiato entre a saída do capital ruim e a chegada do bom, que o BC precisa preencher com oferta de dólares. Quando a taxa sobe tanto, dá impressão de crise cambial, mas o BC vendeu até agora US$ 24 bilhões, valor acima do saldo negativo do fluxo (de janeiro a 8 de novembro, US$ 21,46 bilhões saíram do Brasil). O BC está inábil. Precisa assumir que vende reserva. O mercado quer só dólar à vista, sem estar atrelado a instrumentos com o o swap cambial.
Mesmo fechando pouco acima da mínima do dia, a R$ 4,239, depois de duas intervenções do Banco Central (BC), o dólar ainda teve mais um recorde nominal nesta terça-feira (26). Foi o maior valor da história, embora ainda distante do atingido em 23 de setembro de 2002, na época R$ 3,99. Se fosse atualizado pelas inflações brasileiras e americanas, equivaleria hoje a um valor entre R$ 8 e R$ 10 – a variação depende da fórmula aplicada na correção –, ou seja, mais do que o dobro da cotação atual. Pela manhã, havia chegado a R$ 4,275.