O primeiro mês do ano nem terminou, e já houve uma "quase-guerra" – menos mal que a temida escalada do conflito entre Estados Unidos e Irã não ocorreu –, seguida da ameaça de contágio global de um vírus potencialmente letal. No final de semana de virada de ano lunar para os chineses, em vez de festas houve ordens de isolamento. Será o ano do rato, um dos 12 animais do horóscopo do país. Mas o que parece reger 2020 são os cisnes negros, aves usadas pelo matemático Nassim Taleb para simbolizar riscos fora do radar, com grande impacto.
Há uma semana, o mundo ensaia cálculos da potenciais perdas financeiras relacionadas ao coronavírus. Até agora, a agência de avaliação de risco Standard & Poor’s foi mais longe nessa tentativa. Shaun Roache, economista-chefe da divisão Asia-Pacífico da S&P, estimou que uma queda de 10% nos gastos de transporte e entretenimento na China cortariam 1,2 pontos percentuais do crescimento geral do PIB do país. Na previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) anterior ao episódio sanitário, a estimativa já havia sido reduzida de 6% para 5,8% neste ano.
Em Wuhan, origem dos casos de pneumonia, e várias cidades vizinhas, há restrição de transporte. Em Hong Kong e Pequim, as festas de Ano Novo foram canceladas. Na sexta-feira, a bolsa de Xangai encerrou o ano lunar com queda de quase 2,75%, pior desempenho em três décadas.
Na última década, a China passou a dividir com os Estados Unidos o papel de locomotiva global. A cotação de referência do barril de petróleo caiu 6,4% na semana passada, com inquietações sobre o impacto do vírus no crescimento chinês. A moeda nacional, o yuan, perdeu 1% ante o dólar no período.
No Brasil, o mercado financeiro alimenta temores desde o dia 21, quando o dólar comercial bateu em R$ 4,20. Também há mais de uma década, a China é o maior comprador de produtos brasileiros. A soja, principal produto exportado pelo Brasil, deve ser afetada pelo deslocamento das compras asiáticas para os Estados Unidos, resultado do recente acordo firmado entre Donald Trump e o vice-presidente chinês, Liu He. O segundo é petróleo, cujo consumo deve se reduzir neste ano. Até agora, a melhor notícia relacionada ao coronavírus é que a doença resultante é curável. Cuidar das perdas econômicas terá de ser um aprendizado.