Um dos mais famosos especialistas em risco, Nassim Nicholas Taleb escolheu uma metáfora zoológica, a dos cisnes negros, para descrever acontecimentos que reúnem três condições: têm forte impacto, estão fora do universo das expectativas, porque nada no passado indica sua possibilidade, mas – a terceira é a mais curiosa – mesmo inesperados, quando ocorrem ganham explicações evidentes, ou seja, são bastante previsíveis em retrospectiva.
É claro que o líder do bando de cisnes negros é o ataque às Torres Gêmeas, o infame 11/9/2001. Se fosse concebível em sua época, o atentado não seria bem-sucedido porque providências teriam sido tomadas para impedi-lo. A ave escolhida por Taleb para a metáfora decorre do fato de que, até a descoberta da Austrália, só se conheciam os exemplares brancos, ou seja, o conhecimento acumulado não supunha animais de outra cor – o adjetivo "negro" nessa comparação não tem, portanto, conotações negativas.
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O mundo e o Brasil têm colecionado cisnes negros. Donald Trump – a cor mais adequada, neste caso, seria laranja, mas vamos nos ater à descrição de Taleb – é um exemplar avantajado. Bilionário excêntrico e apresentador de reality show que vai virar presidente dos EUA, era uma hipótese ausente da maioria dos planejamentos estratégicos. Tem forçado revisão de projeções em todas as latitudes. Foi assim com o Brexit. O tamanho da onda de refugiados na Europa é outro. Apesar de a raridade do cisne negro não ser uma de suas características essenciais, está implícita por não constar no cardápio. E o avanço dos fatos nos coloca diante do impensável: uma superpopulação de cisnes negros.
No Brasil, começam os preparativos para o mais emplumado espécime: a delação da Odebrecht. Embora deva ter mais impacto no habitat político e só pudesse ser considerada inesperada até há poucos meses, quando se soube da drástica mudança de opinião do ex-presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, terá altíssimo impacto econômico.