Estava combinado entre os integrantes da equipe econômica que marolas só seriam provocadas depois da reforma da Previdência. Já em vigor, a dura mudança nas regras
de aposentadoria parece aperitivo para as demais chacoalhadas planejadas para o Brasil.
A dose deste ano nem terminou e há duas novas reformas sobre a mesa: a do Estado e mais uma trabalhista. Uma será debatida no Congresso, outra, em tese, está valendo por ter surgido disfarçada na Medida Provisória 905. E ainda vem aí a administrativa.
A revolução nos gastos públicos com as três propostas
de emenda constitucional (PEC) anunciadas em 5 de novembro confluiu com a mudança na Consolidação
das Leis do Trabalho (CLT). A marola virou tsunami.
O incentivo ao emprego, que deveria soprar as mordidas das propostas liberalizantes, acabou cravando os dentes
no seguro-desemprego. Não por acaso, outros setores
do governo passaram a falar em plano social.
Se é fato que o Brasil precisa de reformas, por ter excesso de sistemas disfuncionais, também precisa de cuidados. O país passou por dois anos de recessão profunda, da qual ainda não se recuperou. Nos últimos cinco anos, resistiu a acentuada perda de emprego
e renda sem grande comoção social.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem dose de liberalismo acima da média. A habitual prega que o Estado só invista em saúde, educação e segurança. Guedes acha que construir escolas, quando faltarem vagas, pode ser tarefa da iniciativa privada. A estratégia pode ser pedir Netuno (planeta do sistema solar mais distante da Terra), para obter a Lua. Mas o surto de liberalismo ocorre em tempos de cólera na América Latina. O risco de passar do ponto existe. De algum lugar, tem de vir um sopro de alívio de curto prazo. Ainda que seja para garantir a serenidade.