As declarações ameaçadoras do presidente Jair Bolsonaro no Japão sobre o futuro do Mercosul, não passam de recado, avalia Frederico Behrends, consultor de comércio exterior que acompanha o avanço das negociações entre o bloco latino e a União Europeia. Na mira de Bolsonaro, está a eleição à presidência da Argentina neste domingo, em que o favorito é Alberto Fernández – que tem a ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner como candidata a vice.
– Tudo isso é conversa fiada. Dá uma mexida política, na próxima semana está tudo calminho de novo – avalia Behrends.
Conforme o consultor, reações políticas, como as de França, Irlanda e Áustria, também já eram esperadas.
Os três países manifestaram desconforto com a aprovação do acordo de livre-comércio entre Mercosul e União Europeia. Segundo Behrends, o governo brasileiro é
"o maior interessado" na implementação do acordo.
– Vamos dar um salto na área de pecuária e grãos – justifica.
Por isso, as ameaças do presidente brasileiro devem ser interpretadas como "recado" aos argentinos. Behrends não desconhece os problemas envolvidos na provável eleição dos Fernández:
– Eles são contra, mas não são eles que vão derrubar o acordo.
Admite, porém, que podem ocorre "algumas alterações". As que estão na mesa neste momento não vão na direção desejada pela Argentina: reduziriam o prazo de redução de tarifas de importação dos países do Mercosul, atualmente de dois, quatro, oito, 10, 12 e 20 anos. Conforme Behrends, caso o Parlamento do Brasil aprove os termos do tratado antes da Argentina, poderá começar a implantá-lo antes do sócio no Mercosul. Aqui, o prazo médio de aprovação de acordos de comércio é de quatro anos.
Outra manifestação de Bolsonaro sobre o eventual interesse do Japão em negociar uma liberação tarifária com o Mercosul, reforça a percepção de que as ameaças são apenas recado. Conforme Behrends, as próximas tratativas devem ser com o Canadá. Já foi marcada uma reunião no âmbito da Coalizão Empresarial Brasileira (CEB), que acompanha acordos internacionais, para discutir o tema na próxima semana.