Em seu último dia de viagem ao Japão, o presidente Jair Bolsonaro falou sobre a eleição na Argentina. Segundo ele, se a chapa de esquerda de Alberto Fernández e Cristina Kirchner vencer o pleito, e se isso representar um retrocesso no movimento de abertura de mercado do Mercosul, o Brasil pode pedir uma reunião com Uruguai e Paraguai para tomar alguma medida.
— Nós sabemos que a volta da turma do Foro de São Paulo e da Cristina Kirchner para o governo argentino pode, sim, colocar em risco todo Mercosul. E se possivelmente colocando em risco todo o Mercosul, repito, possivelmente, você tem de ter uma alternativa no bolso — disse, em entrevista à imprensa, nesta quarta-feira (23).
O presidente sinalizou a possibilidade de um pedido de suspensão da Argentina ao lembrar que medida semelhante foi adotada, em 2012, contra o Paraguai. Na época, a decisão foi tomada por conta da deposição do então presidente paraguaio Fernando Lugo, após rápido processo de impeachment.
— O que nós queremos é que a Argentina continue na questão comercial, caso a oposição vença, da mesma forma do (presidente Mauricio) Macri. Caso contrário, podemos nos reunir com o Uruguai e o Paraguai — disse.
Segundo ele, o propósito do governo brasileiro não é o de facilitar que grupos de esquerda formem, de acordo com ele, "uma grande pátria bolivariana, como queriam os governantes daquela época".
— A nossa ideia é, sim, de fato, abrir o mercado e fazer comércio com o mundo todo — disse Bolsonaro.
Com a onda de protestos no Chile iniciada após a possibilidade de aumento da tarifa de transporte, o presidente tem acusado partidos de esquerda de tentarem desestabilizar governos de centro-direita para retornar ao poder.
Em encontro com empresários brasileiros, o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que acompanha Bolsonaro na viagem ao Japão, acusou a "esquerda radical" de estar desesperada com "a perda do poder" na América do Sul.
— Neste momento na América do Sul, estamos vivendo um período difícil, em que a esquerda radical, desesperada com a perda do poder, vai jogar todas as suas fichas na mesa para conturbar a vida dos países sul-americanos e tentar retornar ao poder de qualquer maneira — criticou.
O presidente disse que o Brasil tem monitorado a situação de instabilidade e que pediu ao Ministério da Defesa que fique em alerta para, se for o caso, utilizar as Forças Armadas para evitar confrontos e tumultos no país.
— Conversei com o ministro de Defesa sobre a possibilidade de ter movimentos como tivemos no passado, parecidos como que está acontecendo no Chile — afirmou.
Ele citou o artigo 142 da Constituição, segundo o qual as Forças Armadas têm como atribuições a defesa do país, a "garantia dos poderes constitucionais" e, se convocadas por um dos três poderes, a garantia "da lei e da ordem".
É com base nesse dispositivo que os militares foram chamados a participar de atividades de natureza policial nos últimos anos, como durante a intervenção decretada pelo ex-presidente Michel Temer (MDB) na segurança do Rio de Janeiro.
— Logicamente, essa conversa ele (ministro da Defesa) leva a seus comandantes. E a gente se prepara para usar o artigo 142, que é pela manutenção da lei e da ordem caso eles [Forças Armadas] venham a ser convocados por um dos três poderes — disse.