No dia do lançamento dos novos modelos do Onix – no fim foram dois, o sedã Plus e uma nova versão do hatch –, o presidente da General Motors (GM) para a América Latina, Carlos Zarlenga, falou com alguns jornalistas. À coluna, afirmou que a ameaça de abandonar o Brasil, em janeiro, não foi um blefe, sustentando que a operação nacional é deficitária. Voltou a afirmar que a unidade de Gravataí é a mais produtiva no mundo, e que o terceiro turno, que tinha prazo previsto até outubro, terá de ser mantido para dar conta das vendas das novas versões. Ponderou, porém, que o futuro depende de soluções logísticas. Admitiu voltar a avaliar o transporte dos carros produzidos na Região Metropolitana por hidrovias, mas não quis detalhar. Afirmou apenas que já está tratando do assunto.
Por que ameaçar sair do Brasil se a empresa tem o campeão de venda no país?
O resultado, não só da GM mas da indústria automotiva, dá prejuízo há anos. A violenta desvalorização do real teve impacto, tanto em 2018 quanto neste ano. Quem achava que estávamos blefando não entende nada desta indústria. Quem acha que a indústria automotiva no Brasil é altamente lucrativa entende pouco do assunto. Para seguir no Brasil, é preciso investir, alguns investimentos já estavam quase feitos, esse carro que nós estamos lançando hoje (ontem) já estava quase feito, mas tem muitos que estão por vir. Duas plantas precisavam de produtos novos havia R$ 10 bilhões em investimento.
A planta de Gravataí não é a mais produtiva do mundo?
Será que a GM conseguia ficar só com Gravataí, só com um produto no mercado? Era sustentável? Não era. Tínhamos de reestruturar a empresa, conversando com fornecedores, sindicato, governo e concessionários. Os concessionários abriram mão de quase da metade da sua margem, os fornecedores trabalharam junto e reduziram custos a longo prazo. O governo de São Paulo entendeu bem a necessidade desses investimentos, e os sindicatos tiveram uma atitude madura. Conseguimos repensar os investimentos para o futuro. Fico contente que deu certo.
Sou responsável por toda a América do Sul, e só no Brasil a operação é deficitária
CARLOS ZARLENGA
PRESIDENTE DA GENERAL MOTORS (GM) PARA A AMÉRICA LATINA
A GM tem prejuízo no Brasil?
Sou responsável por toda a América do Sul, e só no Brasil a operação é deficitária. A Argentina depende de como se olha, mas em modo geral não. O problema é simples, no Brasil temos exposição cambial altíssima, porque toda a receita é em real, mas não todo o custo. Para reduzir essa exposição, tem de exportar, o que não se pode fazer porque o Brasil tem custo muito alto. Gravataí tem a fábrica mais eficiente do mundo, entre todas as montadoras, com eficiência de produção, horas por veículos. O custo está fora da fábrica Quando se exporta um carro no Brasil, exporta 20% de tributos. Se você vende no mercado brasileiro, 50% da receita é imposto. A logística precisa de muita evolução, é só rodoviária. em mono modalidades infraestrutura altíssima, isso não muda. O governo tem a grande de aprovar o reintegro de exportações para devolver parte desse imposto que é exportando, o consumidor estrangeiro não vai pagar os impostos brasileiros, ele não tem os benefícios do estado. Então se não fechar isso, não pode exportar, pois o produto é muito caro, por impostos. Agora, por outro lado, quatro ou cinco milhões de unidades instaladas no Brasil, se somar Argentina, seis milhões. Acho que somos a única indústria do planeta que tem capacidade instalada de seis milhões e não consegue exportar para fora do Mercosul, nem para o resto da América do Sul. A GM só somos 300 mil carros na América do Sul. Eu quero investir para isso, vai reduzir a minha exposição cambial do Brasil.
Por que a fábrica mais eficiente recebe R$ 1,5 bilhão, e as menos, R$ 10 bilhões?
Gravataí tem recebido grandes investimentos e vai continuar recebendo. Agora, é uma linha de produtos com a mesma arquitetura que vão ser lançados por diversas plantas.
O terceiro turno na unidade de Gravataí será mantido?
Para dar conta das vendas que esperamos para os novos modelos, teremos de manter o terceiro turno.
A GM pretende retomar o plano de transporte por hidrovia?
Esse custo de eficiência é fundamental. O projeto fluvial está sendo desenvolvido, é uma das coisas que estamos trabalhando.