Na presidência da General Motors Mercosul desde janeiro deste ano, o argentino Carlos Zarlenga tem a missão de aprofundar a integração das indústrias da marca no Brasil e na Argentina. Nesta quinta-feira (3), após o anúncio do investimento de R$ 1,4 bilhão em Gravataí, Zarlenga disse à coluna que a família nascida desse projeto vai se espalhar pelos dois países. E fez uma autocrítica sobre os desafios da indústria automotiva, reconhecendo que falta nivelar a competitividade nos dois países aos padrões mundiais.
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O GEM é uma plataforma com vários modelos ou um modelo com várias versões?
É uma plataforma com vários modelos.
Vai ter hatch, sedã, crossover?
Nesse momento, não vamos adiantar nada além do investimento.
Por que a GM está investindo pesado em período de crise?
A GM fez o maior investimento da história, no Brasil e no Mercosul, no pior período de crise. Esse mercado foi de 3,8 milhões de unidades para 2 milhões no ano passado. Então, por que fizemos o maior investimento na maior crise? Vemos isso no longo prazo e estamos pensando que não só o nível da indústria vai retornar, mas vai retornar mais forte. Em 2017 vai haver crescimento, deve entre 8% e 10%. Em cinco meses, já tem havido crescimento. Fechando julho, já tem crescimento interanual, porque janeiro e fevereiro foram ruins, mas após isso começou a crescer. É um sinal muito importante, porque é a primeira vez em três anos. Há três razões. Primeiro porque, durante a crise, muita gente não comprou carro. Cerca de 3 milhões de carros não foram vendidos em quatro anos. Pelas pesquisas, a maioria das pessoas que não fizeram a compra de um veículo nesse período, está pensando em voltar ao mercado. É uma demanda reprimida importante. Segundo, a confiança do consumidor está perto do nível anterior à crise. E terceiro, a ampliação de linhas de crédito e a redução do juro vão fazer diferença enorme. A indústria virou e vai ter crescimento daqui para frente. Só que esse crescimento vai vir diferente. Nossa indústria, no passado, cometeu o erro de procurar só incentivos, benefícios. Daqui para frente temos que buscar competitividade. Estamos a favor da abertura do mercado, em um período razoável, de 10, 15 anos. Nesse período, temos de alcançar níveis de competitividade internacional. E como vamos fazer? Primeiro, a reforma trabalhista, que já passou. Segundo, a unificação com o Mercosul. Não estamos trabalhando a parceria com o Mercosul da forma correta. Por isso a GM avançou e fez uma empresa só no Brasil e na Argentina. E temos de trabalhar junto com o governo, com o país, com os dois países, na realidade, para trazer mais desenvolvimento e tecnologia.
A nova linha seria no conceito indústria 4.0, marcada por muita automação e inteligência artificial. Por outro lado, há expectativa de geração de emprego. Qual a expectativa realista de abertura de vagas?
No curto prazo, esse investimento vai gerar emprego. Sem dúvida. Ao mesmo tempo, acho que tem boa notícia: não vai nem ter de esperar até o investimento para gerar emprego. Se o ritmo da indústria continuar crescendo do jeito que está, vamos poder gerar emprego inclusive antes.
Mas emprego em grande volume?
Acho que sim. Empregos diretos, na fábrica, e também indiretos, nos fornecedores, e ainda mais indiretos na comunidade. Mas a questão de que, no médio prazo, automação substitui o emprego, merece atenção. Nos últimos 20, 30 anos de evolução da tecnologia, tem gerado taxas de desemprego baixas, em geral. O que acaba fazendo é gerar empregos de melhor qualidade. Esse investimento, no futuro, vai gerar empregos de melhor qualidade. Não vai, necessariamente, fazer substituição.
Qual o perfil dos novos fornecedores?
Vou deixar os fornecedores fazerem os anúncios deles. Mas vai haver novos parceiros aqui. Sobre conectividade, anunciamos parceria com o Waze na semana passada. Onix e Waze são parceiros e agora o aplicativo está disponível na tela do MyLink. Onix já tem One Star, sistema de conectividade e telemática.
O modelo vai ser lançado no final de 2019?
O investimento começa agora, em 2017. A data de lançamento ainda não está definida.
Há rumores de que o novo carro ocuparia o lugar de outro modelo, que sairia de linha. O que há de verdade?
Se você ver o portfolio da Chevrolet de hoje, vai ver que estamos cobrindo todos os segmentos. No momento, não estamos anunciando nada.
O foco em eficiência energética suscitou a hipótese de um carro híbrido ou elétrico. Há chances?
Esse programa e essa arquitetura dos veículos que vamos fazer aqui terão inovações de power train (motor), quer dizer, vêm com forma de motor e transmissão. Não serão híbridos, mas vêm com evolução de motor e transmissão. Será o mais desenvolvido e tecnológico que a GM tem globalmente.
Isso significa menor consumo de combustível?
Menor consumo, menores emissões, mais eficiência. Não temos essa plataforma de motores, não temos em nenhum veículo que estamos vendendo hoje aqui e na América do Sul. Será a grande evolução desse produto. Não só do produto, mas da família inteira. Estamos falando da família inteira em arquitetura e na grande melhoria de power train.
A família inteira será produzida em Gravataí?
Será produzida em todas as plantas do Mercosul. Grandes partes em Gravataí, e outras nas demais unidades.