Vinte anos após ser anunciada, a unidade da General Motors (GM) em Gravataí se consolida como a mais importante da montadora na América do Sul. Em solenidade na manhã desta quinta-feira (3) na fábrica, a empresa detalha o investimento de quase R$ 1,5 bilhão que será feito para colocar um novo modelo no mercado até 2020. O veículo chega para concorrer na faixa que mais cresce nos últimos anos no Brasil e no mundo, a dos SUVs.
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Com a ampliação, a unidade ganha peso ainda maior na corporação. Da fábrica de Gravataí saíram, de janeiro a julho deste ano, 73% dos 185 mil automóveis de passeio da montadora emplacados no país – 98,4 mil Onix, modelo que caminha para ser o campeão nacional de vendas no mercado interno pelo terceiro ano consecutivo, e 37,5 mil Prisma. Sedã que se firmou como o sexto mais comercializado no Brasil, conforme as estatísticas da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores.
O novo produto da GM, entretanto, não será apenas destinado ao mercado interno. O aporte em Gravataí integra plano anunciado pela montadora em 2015 de investir R$ 13 bilhões para desenvolver uma nova família de veículos que também seriam exportados para mercados emergentes, como China, Índia e México. A iniciativa faz parte do Projeto GEM, sigla que, em inglês, significa Global Emerging Markets – mercados emergentes globais.
A renovação da linha de automóveis tem aposta clara: tentar se diferenciar ao oferecer mais conectividade, investindo na interação entre carro, motorista e smartphones, mas também aliando atributos de segurança e eficiência energética aos veículos. Gravataí e a planta de São Caetano do Sul (SP) seriam mais beneficiadas pelo pacote de investimentos, confirmado em plena recessão e em meio à queda do mercado automotivo no país.
Espécie de SUV compacto, o novo modelo da GM quer bater de frente com veículos que recém chegaram ao mercado brasileiro, como Nissan Kicks, Renault Captur, além do veterano Ford EcoSport, que têm preços entre
R$ 70 mil e R$ 90 mil. E a escolha não é à toa. No acumulado do ano até julho, foram emplacados 214,8 mil SUVs no país, crescimento de 27% sobre igual período do ano passado. Já representam 21,2% do mercado.
– E vão chegar a 25% até 2020. Mas as montadoras estão abrindo o seu leque de produtos na categoria. Vai haver concorrência mais acirrada – diz Carlos Ayub, líder do setor automotivo da Delloite Brasil.
A versatilidade explica a grande demanda, destaca Luis Carlos Mello, diretor do Centro de Estudos Automotivos.
– Esse tipo de produto passou a ter procura imensa por seu caráter de utilidade, de multiuso.
– É para cidade, estrada e campo – explica Mello.
Expansão da planta deve atrair novos sistemistas
Essa será a terceira ampliação da fábrica de Gravataí desde 2000, quando foi inaugurada com o modelo Celta, já fora de linha. Nasceu com capacidade para 120 mil veículos por ano e hoje tem quase três vezes mais: 335 mil.
Apesar da nova expansão, não é esperado grande acréscimo de mão de obra em virtude do alto grau de automação. Hoje, são cerca de 2,8 mil pessoas apenas na GM. Contando os sistemistas, o número chega a 5 mil.
O impacto, porém, pode ser maior quando forem contabilizadas vagas que serão abertas com fornecedores que terão de expandir produção e outros que devem chegar. A negociação entre a montadora e o governo gaúcho, aliás, passou pela alteração do Fundopem. A intenção é garantir incentivos fiscais a futuros fornecedores que devem se somar à ampliação da GM.
– A indústria automobilística é um setor encadeado com uma série de atividades, como química, borracha, plástico, siderurgia e alguma coisa de material elétrico – observa o economista Rodrigo Morem da Costa, do núcleo de análises setoriais da Fundação de Economia e Estatística (FEE).
Para Ayub, apesar da instabilidade política, existe perspectiva de que o país tende a ter crescimento acumulado do Produto Interno Bruto (PIB) em torno de 10% até 2020 e, por enquanto, é de se esperar que as vendas de automóveis acompanhem esse ritmo. Acelerar mais, pondera, dependeria da melhora do cenário do crédito. Após três anos de retração, o setor começa a se recuperar em 2017.
VENDAS EM ALTA
De janeiro a julho, foram emplacados no país 98.469 modelos Onix, o mais vendido no mercado doméstico, e 37.502 Prisma, sexto mais comercializado.
Juntos, representam 73% dos emplacamentos de automóveis de passageiros da GM no país,185.086 no acumulado do ano, segundo a Fenabrave.
Apenas o Onix representa quase 10% de todos os emplacamentos de carros no Brasil nos primeiros sete meses de 2017.
MERCADO ATRATIVO
A categoria dos SUVs é a que mais cresce no país. De janeiro a julho, foram 214.889 unidades emplacadas, 21,2% do total do mercado e incremento de 27% em relação a igual período do ano passado.
A consultoria Jato Dynamics também aponta que o segmento foi o que mais cresceu no mundo em 2015 (25,3%) e 2016 (28,8%).
PESO DO SETOR AUTOMOTIVO
Em 2000, o setor automotivo tinha 4,7% do pessoal ocupado nas fábricas do Estado, conforme Pesquisa Industrial Anual (PIA) do IBGE. Em 2013, subiu para 7,5%.O segmento detinha 6% do Valor da Transformação Industrial (VTI) no RS – diferença entre o valor bruto da produção e o custo da operação. Em 2013, a participação sobe para 12,6%. Com a crise, em 2015 cai para 7,6%.O salário médio do setor automotivo em 2015 foi de R$ 3,36 mil, 44% acima do valor quando são consideradas todas as atividades da indústria (R$ 2,33 mil).Também em 2015, a indústria automotiva foi responsável por 19,8% (R$ 24 milhões) da massa salarial de Gravataí.
PRINCIPAIS MOMENTOS DA GM EM GRAVATAÍ
A unidade de Gravataí foi inaugurada em julho de 2000, após investimento de US$ 600 milhões, para produzir o modelo popular Celta. A capacidade original era de 120 mil veículos por ano.Em 2004, a empresa anuncia a primeira ampliação do complexo. O investimento, de US$ 240 milhões, seria feito na linha de produção do novo sedã Prisma, lançado em 2006. A fábrica passa para capacidade de 230 mil veículos ao ano.A segunda expansão ocorreu em 2010 e demandou investimento de R$ 1,4 bilhão. A capacidade de produção foi elevada de 230 mil para 350 mil veículos por ano. O projeto era para a produção do Onix, que chegou ao mercado em 2012 e hoje é líder de vendas.
Mudança de patamar
A instalação e as ampliações da fábrica da General Motors levaram Gravataí a mudar de patamar. Em 1997, quando a chegada da montadora foi anunciada, o município da Região Metropolitana figurava como nono maior PIB do Rio Grande do Sul, de acordo com as séries da Fundação de Economia e Estatística (FEE). Em 2000, quando a planta começou a produzir, passou para a oitava colocação. Dois anos depois, saltou para o quinto lugar, consolidou-se na quarta posição no início da década e, em 2014, último ano com dados disponíveis, chegou ao terceiro lugar, superado apenas por Porto Alegre e Caxias do Sul.
– Isso é efeito da GM, do aumento do fornecimento para a montadora, do comércio e de pessoas gastando a sua renda – avalia o economista Rodrigo Morem da Costa, do núcleo de análises setoriais da FEE.
Fornecedores locais buscam oportunidades
O prefeito de Gravataí, Marco Alba, espera que o investimento a ser detalhado hoje se transforme em um novo ciclo de crescimento para o município, que, devido ao perfil industrial, também foi abalado pela crise. Alba observa que, de 2002 a 2012, a atividade econômica na cidade cresceu em média 16% ao ano.
A nova expansão, lembra Alba, vai aumentar a produção de fornecedores e voltar a movimentar outros setores da economia, como comércio, serviços e mercado imobiliário, com reflexos na renda e na arrecadação do município.
Ao contrário da última ampliação, entre 2010 e 2012, a indústria gaúcha espera abocanhar fatia maior dos serviços e equipamentos da ampliação da GM. O novo Fundopem é um dos amparos. O vice-presidente regional da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, Hernane Cauduro, espera que hoje comece a ser traçado um cronograma para as tratativas com a montadora em busca de oportunidades para fornecedores locais.