A crise vivida pela economia nacional foi definida como "tragédia" em artigo recente de pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre). Um dos responsáveis pelo estudo, Claudio Considera avalia que o governo federal pode – e deve – destinar mais recursos a obras paralisadas. Segundo o economista, o estímulo à construção civil é chave para o país espantar dificuldades e buscar retomada mais consistente.
Como descreve o atual quadro da economia no país?
Chamo de tragédia o fraco desempenho econômico. O Brasil vai para o terceiro ano consecutivo de crescimento aproximado de 1% do Produto Interno Bruto (PIB). A renda está praticamente estagnada. O desemprego atinge quase 13 milhões de pessoas, e não parece que terá muita mudança nos próximos tempos. Chamo isso de tragédia. Não vejo chance de saída com a política econômica atual.
Que política é essa?
Só se pensa em ajuste fiscal, previdenciário e tributário. Parece que o país terá de ser reformado antes de voltar a crescer. Só que, sem crescimento, não há melhora na questão fiscal. Não tem arrecadação suficiente. O problema, que é grave, continua. A área (do governo federal) que cuida das questões fiscais pode dar soluções para isso.
O que deve ser feito para estimular a retomada?
O governo tem de voltar a investir, principalmente, na área da construção pesada. O setor emprega 8,5% da força de trabalho no Brasil e tem forte efeito multiplicador sobre as demais atividades. Continuar com a agenda de reformas também é essencial.
Com as dificuldades fiscais, como é possível abrir espaço para investimento público?
Não tenho a menor ideia de como fazer. Não sou da área fiscal. É a turma do ajuste que pode encontrar maneiras de fazer isso, impedindo o aumento de gastos correntes (custeio da máquina pública). Tem de fazer com que recursos sejam direcionados para obras específicas. Só sei que não dá para continuar da maneira que está. Essa é a armadilha do baixo crescimento.
Há economistas que sugerem revisão no teto de gastos para gerar brecha a investimento público. O que o senhor pensa sobre essa opção?
O teto é uma notável invenção para evitar que o país siga gastando eternamente acima da inflação. Não acho que o teto deva ser destruído. A medida é fundamental. É preciso traçar opções, fazer escolhas de gastos. Não tenho dúvida de que o governo tem de voltar a investir. A questão é que, com o teto de gastos, o ajuste tem sido feito somente no investimento.
O senhor destaca que a construção pode acelerar a retomada. No segundo trimestre, o setor voltou a crescer após 20 quedas consecutivas. Como avalia o cenário da atividade?
Precisamos de gastos do governo em obras pesadas, estradas, energia elétrica. O avanço trimestral da construção foi um suspiro. Não acredito que esteja ocorrendo retomada no setor.
O governo promete concessões à iniciativa privada na área de infraestrutura. Isso pode ajudar a economia?
Com certeza será útil. Só que quanto tempo isso leva? É preciso ter licença ambiental, disso e daquilo. Então, proponho escolher parte das obras que estão paradas no Brasil e tentar terminar essas construções.