Há grande contraste entre a reação à aprovação da primeira etapa da PEC do teto dos gastos no Brasil e no Exterior. Aqui, foi recebida com desconfiança e muito temor. Lá fora, é saudada como o início das reformas que vão devolver alguma normalidade ao país. Claro que existe uma explicação fácil: a conta das restrições será paga pelos brasileiros, não pelos estrangeiros. Mas convém prestar atenção à leitura dos investidores externos, porque ao voltar a olhar o mercado doméstico com interesse, podem contribuir com sua recuperação.
Sem economizar palavras fortes – característica da publicação –, o jornal britânico Financial Times avalia que o Brasil deixou a condição de ''pária'' para o favorito dos investidores entre os mercados emergentes em menos de 12 meses. Observa que o entusiasmo em relação ao porto verde-amarelo eclipsou até a ex-queridinha Argentina de Mauricio Macri. Por ora, o interesse capturado é o do capital financeiro, que discute preço de ativos para investir na bolsa.
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Desafio maior, e que provavelmente custará mais esforço ao Brasil, é atrair o capital produtivo externo, que constrói, gera empregos e faz a roda da economia girar de fato. Apesar de a PEC do teto dos gastos ter elegido o caminho longo para o reequilíbrio, que suaviza os sacrifícios em troca de seu alongamento no tempo, serão tempos difíceis para os brasileiros. Mas se as fontes internas secaram – o dinheiro público é escasso, e o caixa privado remanescente anda trancado a sete chaves até que o fim da recessão se confirme –, a melhor expectativa é contar com recursos externos para fazer o caminho da transição entre o fundo do poço e a superfície.
Será com essa nova imagem que o Brasil se reapresenta para a reunião de cúpula dos Brics, neste final de semana na Índia. Para reforçá-la, conviria ao governo de um país em recuperação graças a medidas impopulares evitar sinais disfuncionais, como o já famoso – ou famigerado – jantar no Palácio da Alvorada. Se não há solução fora da austeridade, precisa valer para todos.