A exemplo do que ocorreu em 2017, a liberação de saques do FGTS deve beneficiar as vendas do varejo e a redução do endividamento, avalia a economista Marianne Hanson, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Nesta entrevista, Marianne analisa o cenário da economia brasileira e o que pode estimular a retomada no país.
Qual o diagnóstico do momento da economia no país?
A economia está estagnada. Havia projeção de crescimento maior neste ano, mas foi frustrada. As expectativas estão sendo revisadas para baixo. A economia apresenta série de problemas estruturais que afetam a confiança dos empresários e dos demais agentes. Os investimentos estão sendo adiados, as pessoas estão mais cautelosas em relação ao consumo. Por isso, temos crescimento mais baixo, que é generalizado. Mas há condições positivas para o país voltar a crescer mais.
Quais condições?
Inflação sob controle e taxa de juro baixa, no menor patamar histórico. Isso pode incentivar o crescimento econômico. A questão é que estamos atravessando crise fiscal muito forte. Essa crise tem reduzido a confiança, impedido o retorno dos investimentos e o aquecimento do mercado de trabalho. O desemprego elevado atinge principalmente o varejo, que tem crescido pouco. Esperamos que, no segundo semestre, a aprovação de mudanças na Previdência e o avanço de outras reformas aqueçam a economia pelo canal dos investimentos e da confiança dos empresários, com a retomada nas contratações de trabalhadores.
O governo Jair Bolsonaro deve anunciar a liberação de saques do FGTS. Como o comércio pode ser impactado?
Um dos setores mais beneficiados pela medida, com certeza, será o varejo. Em 2017, foram sacados R$ 44 bilhões de contas inativas do FGTS. Estimamos na época que o impacto direto no varejo tenha sido de R$ 10,8 bilhões. Ou seja, quase 25% do montante sacado naquele ano teve efeito no setor. As pessoas usaram esses recursos para comprar em diferentes segmentos, desde o de móveis e eletrodomésticos até o de hipermercados e supermercados.
Esperamos que a nova liberação de saques do FGTS tenha impacto importante. É óbvio que esse reflexo dependerá da magnitude dos saques. Ainda não sabemos todas as regras do que será liberado. Hoje, o momento econômico não é muito positivo, mas é melhor do que o de 2017. O efeito do FGTS pode ser maior, não muito distante do estimado há dois anos. Em 2017, houve outro reflexo importante, que deverá ocorrer de novo: a prioridade das famílias no pagamento de dívidas. Isso tem efeito positivo no longo prazo. A redução do endividamento talvez seja a consequência mais importante desse estímulo.
Há outras medidas que podem estimular a economia neste momento?
Não há muito espaço para cortar impostos ou dar incentivos fiscais no país. Pelo contrário, estamos observando dificuldade do governo federal com relação a isso. Existem poucas medidas de estímulo que podem ajudar. Uma delas é a redução dos compulsórios dos bancos para tentar incentivar a concessão de crédito. Podemos esperar ações para estimular financiamentos de modo responsável, já que a taxa de juro está baixa, e a inflação segue sob controle.