Houve reflexo até na bolsa de valores, que cai mais de 1%, a má notícia embutida no resultado de março do Cadastro Geral de Emprego e Desemprego (Caged). Em lugar de estimativas de saldo positivo ao redor de 80 mil vagas, a realidade entregou 43.196 vagas fechadas, no balanço entre demissões e contratações com carteira assinada. E não por acaso, no mesmo dia a Serasa informou que, no mesmo período, os brasileiros quebraram um recorde indesejado: o maior número de inadimplentes da história: 63 milhões.
Em março, o número de consumidores que têm contas em atraso no Brasil foi o maior desde 2016, quando teve início a série histórica da Serasa. Significa que 40,3% da população adulta do país está com dívidas atrasadas e com cadastro negativo, ou seja, sem acesso a crédito. Na comparação com o mesmo mês de 2018 (61,0 milhões), o aumento foi de 3,2%, ou dois milhões a mais de pessoas. Ante fevereiro, a alta foi de 1,2%. O Rio Grande do Sul tem o segundo menor percentual de inadimplentes: 34,5%, quase três milhões de gaúchos sem acesso a compras a prazo. Melhor, só Santa Catarina, que tem 33,7%.
Diante da reversão das expectativas no emprego, a estatística que contabiliza vagas com carteira assinada, cada vez raridade maior no Brasil, o indicador está sendo chamado de Traged. É uma tragédia, de fato, e não apenas do ponto de vista pessoal, de mais brasileiros sem fonte de renda estável. Reflexe a incapacidade de reação na economia brasileira, abalada por desconfianças, disputas de poder e bate-boca de nível escolar.
O primeiro trimestre abriu espaço para uma estagnação autogestada: sem fonte de renda fixa e previsível, os brasileiros não consomem. Sem demanda, não há produção. Sem pressão por mais produtos, não há empregos. O risco crescente que os dados mais recentes da economia embutem é a volta ao negativo no resultado do Produto Interno Bruto (PIB) trimestral. Com a popularidade já baixa, o governo Bolsonaro terá muito a explicar – e mais ainda, a fazer –, especialmente depois de ter criado a perspectiva de destravamento.