Na véspera da votação dos projetos que autorizam o governo do Estado a privatizar CEEE, CRM e Sulgás, o governador Eduardo Leite chamou um grupo de jornalistas para detalhar seus planos nessa e em outras áreas. O desenho do processo já está claro na agenda do governador, só falta o número de votos suficiente para começar a concretizá-lo. Como disse na campanha, Leite segue determinado a não usar recursos decorrentes da venda das empresas no custeio. No entanto, como também já sinalizou, categoriza de "dívida" passivos relacionados a custeio. Portanto, para encurtar o caminho, ao responder pergunta da coluna, disse que planeja usar recursos de financiamento que seriam liberados a partir da assinatura do Regime de Recuperação Fiscal (RRF) para quitar pendências do passado, liberando recursos para a folha de pagamento.
O roteiro esboçado é o seguinte: com aprovação para vender as estatais e a resolução do problema de critério na medição do percentual da despesa corrente empregado com pessoal, o Estado negocia a inclusão no RRF. Conforme Leite, não será exigida a venda do Banrisul, como queria a ex-secretária do Tesouro Nacional, Ana Paula Vescovi. Aprovada a inclusão, o Piratini terá autorização para contrair financiamentos. Hoje, é interditado pelo Tesouro exatamente porque o Estado tem empréstimos que equivalem a 200% de sua arrecadação. Então, o primeiro passo será contrair mais dívida, lamentavelmente.
Esses novos empréstimos, porém, terão como garantia a venda das três estatais. Os recursos provenientes serão usados para pagar as tais "dívidas de custeio", que Leite exemplifica como as duas folhas de pagamento "herdadas" do governo Sartori, pendências com pagamentos de repasses a hospitais, interrompidos em meados do ano passado, e ainda outras dívidas que, embora relativamente recentes, drenam recursos da arrecadação estadual.
– Custeio é presente, e passivo é passado – justificou o governador sobre a aparente mudança de discurso.
Por isso, disse estar confiante de que poderá cumprir a promessa de colocar o pagamento dos salários em dia até o final deste ano. Mas reclamou não só dos passivos deixador por Sartori, mas atribuiu aos governos do PT a responsabilidade por ter "quebrado o Estado", ao "usar receita extraordinária para criar despesa corrente". Também fez uma afirmação difícil de admitir por qualquer governante de plantão:
– Não vou fazer investimentos novos antes de pagar o que devo, então não vou abrir novas frentes de obras públicas, a prioridade é concluir o que está iniciado. Talvez isso signifique não fazer novas obras no meu governo.
Sobre os seis primeiros meses de governo, Leite afirmou que não encontrou problemas inesperados, mas admitiu "surpresas nos detalhes".