Quando entrar em vigor plenamente, depois da aprovação nos 28 países europeus (27, se o Reino Unido confirmar a saída) e nos quatro do Mercosul, o acordo entre os dois blocos econômicos embute riscos e oportunidades. Segmentos industriais menos competitivos dos países latinos podem sofrer com a concorrência de produtos europeus de maior qualidade e menor preço. No entanto, indústrias que já disputam o mercado europeu tendem a ser beneficiadas.
No Estado, além da agropecuária, os dois setores que podem ganhar mais são os de calçados e móveis. Primeiro, porque conforme Frederico Behrends, consultor em comércio exterior que acompanhou de perto a última década das negociações, estão na primeira leva de retirada de alíquotas de importação. Isso quer dizer que, assim que o acordo for aprovados os 32 (ou 31) parlamentos, entra em vigor a queda na tarifa.
– Estávamos prevendo isso, e como o presidente Bolsonaro concordou em assinar o acordo ambiental, foi possível fechar. É o maior acordo comercial do mundo e da história. Ainda é preciso entender melhor os detalhes, mas na versão mais recente calçados e móveis estavam entre os segmentos para os quais a queda de tarifa entre em vigor de imediato – reforça Behrends.
O especialista detalha que as tarifas caem em prazos distintos, de zero, quatro, oito, 10 e 15 anos. No caso dos que ganham prazo, a queda se dá de forma gradual, ou seja, reduz 25% ao ano, no caso do cronograma de quatro anos. Isso não vai valer para cerca de 10% dos produtos dos dois blocos, os considerados "sensíveis".
Presidente da associação da indústria calçadista (Abicalçados), Heitor Klein avalia que o fechamento do acordo é "muito vantajoso" para o segmento, desde que respeitadas regras de origem (comprovação de que o produto realmente vem da Europa) e pelo menos 60% de conteúdo local.
– O calçado brasileiro pode concorrer com qualquer outro produto mundial. Só é preciso definir regra de origem para evitar o risco de que venhamos a ser receptores de produtos asiáticos travestidos de europeus – acrescenta.