Depois de uma longa lacuna, a perspectiva de retomada de um acordo de livre comércio entre União Europeia (UE) e Mercosul começou a se desenhar em maio do ano passado. Em conversas informais, sob a condição de preservar seus nomes, funcionários da UE estimavam que o fechamento era iminente. Pressionado pelas medidas protecionistas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o bloco econômico dava claros sinais de aceitar maior flexibilidade em pontos do acerto antes considerados intocáveis, como alguma redução nos pesados subsídios concedidos à produção rural no continente.
A versão 2019 do acordo é menos ambiciosa do que outros já fechados pela União Europeia. Ainda é um acordo de livre comércio, ou seja, prevê a venda de mercadorias e serviços de um grupo para outro sem tarifa de importação, mas são menos itens e com prazo maior. Para muitos segmentos, só haverá tarifa zero dentro de 15 anos. Para outros, começa imediatamente. Mas é bom lembrar de um dado importante: o acordo foi celebrado entre os dois blocos. Para entrar em vigor, precisa ser aprovado em cada parlamento de todos os países envolvidos, e são nada menos de 32. É a chamada "internalização" das regras.
Era um prazo apertado demais para ser cumprido, tanto que levou mais um ano para ser alcançado, mas enfim, foi cumprido. Foram exatos 20 anos de uma novela arrastada e, inclusive, interrompida durante algumas temporadas. Os temas que consumiram horas de reuniões nestes últimos 12 meses foram cotas de exportação de carne do Mercosul para a Europa, denominação de origem de produtos como queijo e cerveja, e a participação de empresas europeias, em condição de igualdade com as nacionais, nos editais de obras e serviços públicos.
Na época, os técnicos apontavam uma espécie de alinhamento de astros, ou seja, o fato de que criar uma área de livre comércio entre dois blocos de países prejudicados pelo protecionismo americano e questionados por membros rebeldes – o Reino Unido ainda discute os termos de saída da UE, o Brexit – era algo bom para todos.