Foi mais um ato formal do que uma oportunidade para questionar e cobrar respostas a audiência do Parlamento Europeu com Mark Zuckerberg, fundador do Facebook. Usualmente impassível, até Zuck pareceu em alguns momentos surpreso com o tom dos parlamentares.
Pela manhã, quando um grupo de jornalistas da América Latina circulava na sede administrativa do bloco europeu, alguns funcionários comentavam como os políticos estavam satisfeitos com o fato de o empresário ter ido até Bruxelas para prestar contas dos mecanismos de proteção à privacidade da rede social. A estimativa é de que 2,7 milhões de europeus tenham sido afetados pela quebra de privacidade dos dados no escândalo da Cambridge Analytica. Mas se os parlamentares protagonizaram um espetáculo mais midiático do que consequente – a audiência foi transmitida em vários sites e em canais por assinatura –, a Comissão Europeia havia se antecipado.
O órgão que define as regras do bloco, que equivale a um ministério, definiu uma série de regras de proteção de dados chamada General Data Protection Regulation (GDPR). O plano, mais conhecido pela sigla, entra em vigor na próxima sexta-feira, e não afeta apenas os europeus. Além de exigir aderência às normas de todas as empresas que coletam dados na Europa – inclusive o Facebook, claro –, obriga a dar o mesmo tratamento a todos os usuários. Um dos principais é exigir uma confirmação ativa no caso de recebimento de lista de e-mail, por exemplo.
Ao definir como as companhias devem coletar, proteger e usar informações dos usuários, é apontada como a mais agressiva legislação sobre o tema, com potencial para reequilibrar o jogo que até agora apenas expunha seus próprios clientes. Dois eurodeputados tentaram quebrar o discurso ensaiado de Zuckerberg com “perguntas surpresa” no final da sessão, mas o presidente do Parlamento, Antonio Tajani, tirou Zuck do terno justo ao sugerir respostas por escrito. Claro, foi prontamente atendido. A regulação da União Europeia foi bem mais desafiadora ao poder do Facebook do que a audiência.
*A jornalista viajou a convite da União Europeia