Depois de abrir em alta e sucumbir a especulações sobre a troca de mensagens entre Sergio Moro, então juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, e procuradores do Ministério Público Federal no Paraná na época das investigações da Operação Lava-Jato, a bolsa de valores fechou em baixa nesta segunda-feira, mas longe da mínima do dia. O recuo de 0,36% foi menor do que o registrado no final da manhã, quando roçou 1%.
A maior preocupação dos analistas foi tentar avaliar o quanto as revelações sobre os diálogos entre Moro e os procuradores poderiam afetar as chances de aprovação da reforma da Previdência. Ao longo do dia, declarações de Marcelo Ramos (PL-AM), presidente da comissão especial da Câmara dos Deputados, ajudaram a reduzir as perdas. Mas o sinal, ao longo da jornada, ainda foi negativo, sinal claro de cautela entre investidores e especuladores.
O diretor executivo da StoneCapital Investimentos (fusões e aquisições), Ricardo Schmitt, vê com preocupação os efeitos que o episódio pode provocar no mercado. Os empresários, apesar de angustiados com a demora em o governo de Bolsonaro decolar, estavam confiantes de que o segundo semestre de 2019 seria o início da retomada com base em princípios mais sólidos, especialmente baseados na reforma da Previdência e combate efetivo à corrupção. Esse caso mostra o quando as instituições ainda estão fragilizadas. O impacto efetivo das revelações ainda é incerto, avalia.
No câmbio, o dia foi mais calmo. O dólar oscilou pouco ao longo de todo o período de negócios, para fechar a R$ 3,885. Pela manhã, a percepção era de que os efeitos no mercado financeiro seriam limitados, conforme André Perfeito, economista-chefe da Necton. No entanto, indicações de que o material pode ter seguimento acabaram afetando o humor de investidores e especuladores, até que começaram a surgir declarações no sentido de blindar a reforma da Previdência e de avanço do acordo com os governadores para confirmar a inclusão de Estados e municípios.
O clima de incerteza criado por eventuais desdobramentos da divulgação de que Moro teria extrapolado os limites da atuação de magistrado, orientando a investigação, combina-se a outras interrogações do mercado financeiro para a semana, observa Perfeito:
– Para além deste vazamento há que se considerar as dificuldades de se aprovar o crédito suplementar na semana em que está marcada uma greve geral para o dia 14. Tudo isso pode colocar fogo no clima político que parecia estar se estabilizando.
E não foi só o site The Intercept que provocou efeitos no mercado financeiro. Ações de bancos caíram mais do que a média das outras ações, destaca Pablo Spyer, da corretora Mirae, em decorrência de uma publicação da revista eletrônica Crusoé sobre investigações em torno do "doleiro dos doleiros" Darío Messer, que podem avançar sobre bancos nacionais e estrangeiros. As ações do Banco do Brasil recuaram 0,97%, as do Itaú, 1,41%, e do Bradesco, 1,06%.