A desistência da LyondellBasell de comprar a Braskem, anunciada nesta terça-feira (4) provoca duas linhas de raciocínio sobre o futuro da dona do polo petroquímico de Triunfo. A dominante é que a Odebrecht, controladora da indústria, será obrigada a pedir recuperação judicial (RJ) – como fez com a subsidiária produtora de etanol Atnos na semana passada, com desdobramentos que podem atingir a holding.
Nesse cenário, a Braskem seria transformada em Unidade Produtiva Isolada (UPI), cuja venda seria retomada dentro das regras da nova condição da controladora. Rodrigo Tellechea, especialista em recuperações judiciais, explica que, nesse caso, a UPI pode ser alvo de leilão ou, caso a Lyondell mantenha o interesse, o plano de recuperação judicial pode prever um pedido de autorização para venda antecipada. As regras da RJ permitem, desde que se autorize apresentação de mais propostas.
Outra hipótese, do diretor da Maxiquim, João Luiz Zuñeda, consultoria no setor petroquímico, relaciona o fracasso da operação e a venda das refinarias da Petrobras no Rio Grande do Sul e na Bahia (entre outros Estados), onde a Braskem têm ativos. Como há tendência no segmento de integrar refino e petroquímica, a alternativa poderia ser a venda separada das unidades para interessados em atuar no Brasil de forma verticalizada, como a Exxon Mobil, por exemplo.
Na Odebrecht, porém, a tese da recuperação judicial não é admitida. Interlocutores do atual presidente do grupo, Luciano Guidolin, afirmam que a intenção é manter as conversas com os bancos, maiores credores da holding que teve negócios afetados pelo envolvimento com a Operação Lava-Jato. Neste momento, conforme essa fonte, cada empresa está tratando de suas dívidas de forma separada. Já a venda separada das centrais gaúcha e baiana também não encontra eco nos escritórios da direção da empresa. A avaliação é de que a venda em bloco – unidades no Rio, em São Paulo, no México, nos Estados Unidos e na Europa – é a melhor forma de valorizar o ativo.
Na Odebrecht, a ordem agora é focar no processo de reestruturação financeira do grupo e manter a oferta de seu ativo mais valorizado. Se a venda não foi possível nesse momento, pode voltar a ser no futuro. A falar sobre o episódio, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o Brasil, hoje, é visto como território hostil a negócios.