O anúncio da intenção da Fiat Chrysler (FCA) de se fundir com a Renault agitou o mercado. O conglomerado formaria o terceiro maior grupo automotivo do mundo, com valor de mercado estimado em R$ 145 bilhões. No Brasil, a união levaria o grupo a assumir o primeiro lugar em volume de vendas.
Para Raphael Galante, da consultoria automotiva Oikonomia, a fusão entre as duas gigantes tem como o foco o mercado europeu, pelo fato de que o continente começa, já no próximo ano, a reduzir as emissões de gás carbônico. A Fiat Chrysler está bem atrás da Renault quando o assunto são carros elétricos e híbridos. Segundo o especialista, outra opção para a montadora italiana seria uma associação com fabricantes chinesas, mas a formação desse tipo de parceria seria mais complexa do que a proposta à companhia francesa.
– Sem essa parceria com a Renault, em questão de um ano a Fiat já iria começar a perder mercado na Europa, que representa 30% de sua vendas – afirma.
Sobre a possibilidade de a Nissan-Mitsubishi, que hoje divide peças e tecnologia com a Renault, fazer parte do negócio, o consultor analisa que inicialmente isso não deve ocorrer, mas seria o cenário ideal nos planos da FCA.
Hoje, as duas empresas japonesas estão entre as principais desenvolvedoras de carros movidos a energia mais limpa.
Galante considera que fusões entre gigantes – como a recente parceria no segmento de caminhões entre Ford e Volkswagen – devem ser cada
vez mais frequentes, porque os fabricantes de automóveis estão encolhendo suas margens de lucro e, apesar disso, precisam investir pesado em tecnologia. No entanto, aponta que a maior dificuldade no caso Fiat-Renault está no fato de que o maior acionista da francesa
ser o governo local, que tem poder de veto em decisões da companhia. Isso poderia implicar desavenças em questões de mercado.
– Há também uma questão cultural. Digamos que o gestor das duas seja um italiano. Nesse caso, os franceses terão dificuldade de lidar com alguém de fora do país controlando uma empresa que é um patrimônio do país. O mesmo ocorre no caso contrário – avalia.
*Com Anderson Mello