No Brasil, a aliança global lançada nesta terça-feira (15) por Ford e Volkswagen evoca os tempos da Autolatina, parceria entre as duas marcas aqui e na Argentina que durou de 1987 a 1996. Os resultados foram, no mínimo, discutíveis, tanto que a joint venture foi encerrada. Animada pelas negociações em torno da criação do Mercosul, que só foi oficializado em 1991, a união tentava antecipar a integração das cadeias produtivas dos dois maiores sócios do bloco e, na época, os únicos a serem sede de montadoras. Agora, a ambição das duas fabricantes é desenvolver em conjunto veículos comerciais. O primeiro será uma picape média, que deve chegar ao mercado em 2022.
Uma de suas principais características era curiosa: as duas marcas passaram a lançar modelos com características semelhantes. O primeiro, em 1990, foi o Volkswagen Apollo, baseado no Ford Verona, por sua vez uma reestilização de um sucesso da época, o Ford Escort.
Nesse início, as diferenças eram nos detalhes, como acabamento e equipamentos, além da troca de logotipo, claro. Depois, no entanto, a parceria foi derivando em modelos completamente diferentes entre as duas marcas. Outros modelos foram surgindo — como os Volkswagen Logus e Pointer, baseados na quarta geração do Ford Escort, e o Ford Versailles, que tomou o Santana da montadora alemã como inspiração —, mas nenhum propriamente marcou época.
A intenção de usar as sinergias entre as estruturas das duas empresas no Brasil e na Argentina ainda travou na resistência sindical, ainda sob forte liderança do ainda metalúrgico Luiz Inácio da Silva – o "Lula" nem havia sido ainda incorporado ao nome.
Em 1991, diante do anúncio de 3,5 demissões nas unidades da Autolatina, houve greves prolongadas no ABC Paulista. As linhas de produção só voltaram a ser acionadas quando a dispensas foram revistas.
Além de uma estratégia pouco delineada, com muito espaço para reinterpretações das regras, a Autolatina foi vítima do fato de estar muito à frente de seu tempo. Na época, personalidade de marca ainda era um atributo valorizado no mercado de veículos. Quando a crise global de 2008 desmontou montadoras mundo afora, esse fator passou a pesar menos. Grupos de países emergentes viraram referência e compraram grifes como a Volvo, criada na Suécia e hoje sob o guarda-chuva da chinesa Geely). Até a britânica clássica Rolls Royce passou a ser propriedade da indiana Tata, para não mencionar a hoje famigerada associação entre Renault, Nissan e Mitsubishi montada pelo "brasileiro" Carlos Ghosn.