Foi uma semana de inversão de sentido no mercado financeiro. Depois de um longo período de cautela, investidores e especuladores assumiram perspectivas mais negativas sobre a economia brasileira. O resultado foi uma forte alta do dólar, que chegou a R$ 4,102 nesta sexta-feira (17), resultado de alta de 1,65% em um só dia. A bolsa de valores também perdeu o patamar de 90 mil pontos que sustentava desde maio do ano passado. No dia anterior, o dólar havia voltado a superar o patamar de R$ 4, e analistas prevêem que deve ficar nessa órbita durante algum tempo.
A subida do dólar decorre, em parte, das incertezas sobre a guerra comercial entre Estados Unidos e China. A moeda americana se valorizou frente a quase todas as demais, tanto de países emergentes quanto de desenvolvidos. É o momento da aversão de risco, em que os capitais fogem para ativos mais seguros. Embora os EUA estejam envolvidos na disputa, as cédulas verdes ainda representam um porto seguro.
O detalhe é de que o real foi uma das denominações que mais perdeu valor nos últimos dias, devido à situação política interna, que acentua a desconfiança de investidores. Nesta sexta-feira (17), o risco Brasil medido pelo Credit Default Swap
(CDS), espécie de seguro contra calote, voltou a 180 pontos, nível que não era atingido
desde o início de janeiro deste ano. A leitura é de que, se a desconfiança sobre o país aumenta, o seguro diante dessa incerteza também sobe.
Na bolsa de valores, o dia havia sido positivo até metade da tarde, quando o humor mudou. A partir de então, o Ibovespa, índice que representa as ações mais negociadas, passou a cair. Fechou quase estável, mas como no dia anterior havia mantido o nível de 90 mil pontos por um triz, nesta sexta-feira (17) acabou perdendo esse nível mantido desde o primeiro dia útil de 2019. Como o ano havia começado com a perspectiva de ultrapassar os 100 mil pontos – o que ocorreu durante a sessão do dia 18 de março, mas não se sustentou até o fechamento –, é um sério revés para o mercado de capitais no país. Agentes do mercado comentaram muito, durante o dia, um texto compartilhado pelo presidente Jair Bolsonaro, que fala em "país ingovernável". É difícil saber com precisão o peso sobre os papéis, mas teve influência.