Se no dia anterior, a sombra da volta à recessão se somou à incerteza sobre o conflito comercial entre Estados Unidos e China, nesta quinta-feira (16), o que predominou para determinar o mau humor do mercado financeiro foi mesmo o cenário interno. O dólar fechou com alta de 1,01%, a R$ 4,037, e a bolsa caiu 1,7%, para 90 mil pontos. Um dos motivos foi a repercussão dos efeitos da retração de 0,68% no Indicador de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) no primeiro trimestre, que projeta queda no Produto Interno Bruto (PIB) entre janeiro a março, a ser confirmado no dia 30, pelo IBGE.
O movimento de alta no dólar e baixa na bolsa, que já era pronunciado, agravou-se com a informação de alerta para risco de ruptura em outra barragem da Vale, desta vez em Barão de Cocais (MG), e uma declaração de Rafael Guedes, diretor da Fitch Ratings, que faz análise de risco de crédito. Conforme o "outro Guedes", apenas a reforma da Previdência não vai resolver os problemas do Brasil, que "precisa de crescimento" – tudo o que os indicadores recentes indicam que não temos para entregar.
As declarações do diretor da Fitch – uma das três grandes agências que definem as notas de risco para dívidas nacionais como a do Brasil – acentuaram a subida do dólar, que já estava em R$ 4,02, para o patamar de R$ 4,04. Foi a primeira vez que a moeda americana fechou acima de R$ 4 desde 1º de outubro de 2018, antes de o mercado financeiro considerar a vitória de Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais como o melhor cenário possível e passar
a valorizar o real.
A bolsa mal conseguiu sustentar o nível de 90 mil pontos, mantido desde maio de 2018, depois de flertar, ao menos durante um dia, em 18 de março, com a marca dos 100 mil.
As ações da Vale mergulharam, para fechar com queda ao redor de 3,4%. Entre os motivos
do pessimismo, analistas apontam maior dificuldade na aprovação da reforma da Previdência, depois da reação intempestiva do presidente Jair Bolsonaro no dia anterior. Diante dos protestos estudantis contra o contingenciamento do orçamento para a educação, o presidente, que estava nos Estados Unidos, disse que eram "imbecis" e "idiotas úteis".