Depois que o ministro da Economia, Paulo Guedes, supersincero, admitiu que a reforma da Previdência inclui "jabutis" (referência à inclusão de uma regra sem relação com o objeto da lei, aquele que não sobe em árvore, e se está lá é porque alguém colocou), a temperatura dos debates sobre a proposta do governo que tramita na Câmara dos Deputados deve subir.
Ainda antes, havia uma mobilização dos deputados do Centrão em torno de quatro pontos: no fim do pagamento da multa de 40% do FGTS a aposentados que seguem na ativa, na exclusividade do Executivo para mudar a reforma, na concentração de ações judiciais sobre a reforma no Distrito Federal e nas alterações na aposentadoria compulsória por lei complementar.
A boa notícia para o governo é de que analistas, como Richard Back, da XP, apontam que não há impacto fiscal significativo na retirada dos bichos da árvore. Alguns exemplares escaparam da operação "fora jabuti", como o pagamento do abono salarial e desconstitucionalização de todas as propostas para a Previdência.
Na mesma entrevista em que colocou guizo nos répteis de carapaça, Guedes evitou fazer o mesmo com outra espécie animal que simboliza problemas na propostas, os bodes. Não quis dizer quais eram, mas contou que questionou o secretário especial da Previdência, Rogério Marinho, sobre pontos específicos e ouviu como resposta algo como "deixa aí, é para a gente negociar". É a melhor definição do "bode" legal: está lá para ser retirado.
O problema é que o barulho dos guizos dos jabutis pode voltar a despertar o desejo dos deputados de fazer mudanças no texto já na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O correto seria debater o conteúdo da proposta só na próxima fase, na Comissão Especial.
Se o simpático bicho de casco não afeta a economia de R$ 1 trilhão desejada por Guedes, pode abrir um caminho mais lento para a tramitação da reforma. E se é correto, como disse
o ministro, que não lhe cabe identificar os bodes, a caça aos ruminantes pode espalhar cifrões pelas paredes do Congresso. E aí, sim, há perigo.