Identificar os pontos incluídos na proposta de reforma da Previdência para serem derrubados no Congresso – os chamados bodes – pode ser útil para separar a legítima defesa dos interesses dos cidadão de chantagens parlamentares. A coluna defende essa ideia. Mas a tarefa, definitivamente, não cabe ao Palácio do Planalto. A admissão do presidente Jair Bolsonaro de que a idade mínima para aposentadoria das mulheres pode cair de 62 anos, como está proposto, para 60 anos, provocou celeuma nos mais entusiasmados defensores da reforma.
Primeiro porque mexe em um pilar das mudanças, a idade mínima, e pode causar impacto considerável nas projeções da economia obtida em 10 anos. Essas estimativas são importantes não só para dar sustentabilidade à Previdência, mas às contas públicas brasileiras.
Despesas com aposentadorias e benefícios representam o segundo maior gasto da União, atrás apenas do pagamento do serviço da dívida pública. Sinalizar que serão reduzidas substancialmente ao longo do tempo tem impacto na avaliação do Brasil com bom pagador.
Segundo, porque essa questão sequer havia sido citada entre os bodes preferidos do Congresso até agora. Estavam escalados como protagonistas a redução de R$ 998 para R$ 400 no pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC) para brasileiros entre 65 a 70 anos sem outra renda – também citado por Bolsonaro – e as idades mínimas iguais para homens e mulheres no campo.
A declaração do presidente elevou a tensão no mercado financeiro, com queda de 1,77% na bolsa de valores e alta de 0,6% no dólar. O resultado do PIB de 2018, especialmente no quarto trimestre (leia mais ao lado) também contribuiu para o mau humor nacional. Também pesou o encerramento sem acordo da conversa entre os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e da Coreia do Norte, Kim Jong-Un. Mas a fala de Bolsonaro ressou mais.