A decisão do Banco Central (BC) de manter o juro básico em 6,5% pela sétima vez seguida era mais do que esperada. A grande expectativa estava relacionada ao comunicado, o último com a assinatura do presidente Ilan Goldfajn, que será substituído por Roberto Campos Neto. Embora analista tenham trocado a discussão de uma eventual elevação da taxa Selic por redução, caso a reforma da Previdência seja bem-sucedida, o BC ainda tem pela frente uma difícil lição de casa: fazer com que o mais baixo patamar do juro básico da história chegue ao crédito em proporção mais aceitável.
A Selic sofreu poda significativa de 54,4% entre agosto de 2016, quando estava em 14,25% ao ano, e o patamar atual. Conforme a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a maior redução nas taxas cobradas na ponta foi a do cartão de crédito. E só porque houve mudança na regra, que agora impede a manutenção na modalidade de crédito rotativo por mais de um mês. Outro campeão de órbita, o cheque especial, caiu quase dez vezes menos do que a taxa de referência, ridículos 5,61%.
O maior efeito, claro, foi para quem aplica recursos na renda fixa. Na média, os fundos de investimento da modalidade reduziram o rendimento em 56% – variação superior à da Selic. A Anefac aponta queda de 22,84% na média geral das modalidades de crédito – menos da metade do recuo da taxa básica. É menos da metade da queda acumulada no período.
Ilan deixa o BC com a missão cumprida de quem voltou a coordenar expectativas. Com uma exceção notável – em maio, o BC manteve a taxa, em vez de cortar 0,25 , como era previsto, provocando reações extremadas – o futuro ex-presidente não surpreendeu o mercado e, com comunicação ainda prudente, mas muito mais clara, retomou a previsibilidade das decisões sobre o juro. O desafio de Campos Neto será manter a coordenação e trabalhar por maior transmissão, ou seja, fazer com que o juro baixo chegue onde é necessário.