O Banco Central (BC) manteve inalterada, pela sexta vez consecutiva, a taxa básica de juro da economia brasileira, em 6,5% ao ano. Com a decisão, confirmada nesta quarta-feira (12) na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2018, a Selic permanece no menor nível já registrado no país. Os impactos do recente ciclo de cortes, iniciado em outubro de 2016, ainda não são sentidos com o mesmo vigor no dia a dia pelos consumidores brasileiros.
Até maio, quando o BC interrompeu as reduções, o juro básico acumulou queda de 53,6%. Nos bancos, desde o início do ciclo de cortes até novembro passado (dado mais recente disponível), a taxa média de crédito para pessoa física passou de 157,47% para 121,46% ao ano, baixa de 22,9%. Ou seja, em termos percentuais, a redução para consumidores correspondeu a menos da metade da registrada pela Selic, indica pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).
A Selic serve como uma das referências para as linhas de crédito brasileiras. Ao derrubá-la ao menor patamar histórico, o BC buscou tornar empréstimos mais atrativos e, como consequência, estimular o consumo.
Desde outubro de 2016, as linhas direcionadas a empresas também vêm caindo, mas em nível inferior ao da Selic, a exemplo das opções para pessoas físicas. Conforme a Anefac, até o último mês de novembro, a taxa média para pessoas jurídicas teve baixa de 29,7%, ao atingir a marca de 53,22% ao ano.
— Há movimento de redução no país. Mas as taxas continuam em níveis elevados. Ainda não retornaram para o patamar de 2013, de antes da crise — afirma o diretor-executivo de estudos e pesquisas econômicas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira.
Conforme o especialista, a diminuição nas taxas para consumidores e empresas não alcançou o mesmo ritmo da baixa na Selic pelo fato de o juro básico não ser o único aspecto levado em consideração pelos bancos para formar suas linhas. Oliveira menciona que, entre os fatores com peso sobre as definições, estão a margem de lucro das instituições e suas despesas administrativas. No acumulado dos nove primeiros meses de 2018, os ganhos líquidos dos cinco maiores bancos do país (Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander) alcançaram R$ 62,7 bilhões.
Além disso, o especialista lembra que a concentração do setor avançou nos últimos anos, já que instituições maiores compraram menores, o que também influencia a formação das taxas para os consumidores. Segundo o BC, os cinco principais bancos respondiam por 81,6% do mercado para pessoas físicas no Brasil em 2017.
— Quando há redução no número de competidores, existe menos disputa. A maior concentração bancária dificulta a queda nas taxas — observa Oliveira.
Outro fator apontado como responsável por diminuir a velocidade de queda nas linhas de crédito é o risco causado pela inadimplência. Esse componente, diz Oliveira, continua no radar dos bancos devido ao elevado nível de desemprego no país, que atinge 12,4 milhões de brasileiros.
A taxa média de juro para pessoas físicas da pesquisa da Anefac engloba seis modalidades oferecidas aos consumidores. As mais elevadas em novembro foram as linhas de cheque especial (282,97% ao ano) e cartão de crédito (275,24% ao ano).
— Entre a Selic e o consumidor final, há o spread bancário (diferença do custo de captação dos bancos e a taxa cobrada dos clientes). A queda na ponta depende de diferentes fatores, como o tipo de operação. O juro do cartão de crédito, por exemplo, é muito maior do que o de outras linhas. O Banco Central vem tentando diminuir o spread nos últimos anos – observa o pesquisador Livio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Novas quedas, mas em ritmo lento
Ao confirmar nesta quarta-feira (12) a decisão de manter a Selic em 6,5% ao ano, o Banco Central (BC) frisou que as perspectivas de inflação continuam em níveis "apropriados ou confortáveis" — quando os preços disparam, o Comitê de Política Monetária (Copom) costuma subir a taxa para tentar conter o avanço nos valores. Mas o comunicado da instituição destacou que o cenário externo "permanece desafiador para economias emergentes". Nas atuais condições, especialistas projetam que o juro básico tende a seguir inalterado pelo menos nas primeiras reuniões do colegiado em 2019.
— Não deve haver grandes mudanças. O comportamento da inflação tem sido benigno. O cenário externo é o que apresentou mais dificuldades — pontua o pesquisador Livio Ribeiro, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Caso o juro básico siga no menor nível já registrado no país, as taxas para consumidores devem seguir em queda, mas ainda em ritmo lento, pondera o diretor-executivo de estudos e pesquisas econômicas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira:
— A tendência é de que haja novas baixas, até porque as linhas ainda estão em nível elevado.
A próxima reunião do Copom está marcada para 5 e 6 de fevereiro. Até o final de 2019, haverá outros sete encontros do colegiado. "O comitê enfatiza que a continuidade do processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para a manutenção da inflação baixa no médio e longo prazos, para a queda da taxa de juro estrutural e para a recuperação sustentável da economia", diz o comunicado do Copom divulgado nesta quarta-feira.