A inadimplência ainda é alta, e as cicatrizes deixadas pela crise econômica devem levar os gaúchos a terem mais cautela nas compras de Natal. De acordo com levantamento mais recente da Serasa Experian, 3,07 milhões de consumidores do Rio Grande do Sul — um a cada 3,7 habitantes — estavam com o nome sujo em setembro, com restrições para tomar empréstimos ou abrir crediário.
O aperto no bolso repete números nacionais: são 61,4 milhões de inadimplentes em todo país inscritos na Serasa. No cadastro do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), havia 62,9 milhões de brasileiros em outubro. Na última sexta-feira, o IBGE divulgou que o PIB do Brasil cresceu 0,8%. À revelia disto, os números de inadimplência sobem: após um bimestre de queda, a quantidade de negativados no SPC cresceu 0,1% em setembro e 0,8% em outubro.
— A recuperação da economia é lenta e muita gente continua sem emprego. Isso atrapalha a organização do orçamento e adia o acerto das contas — explica Flávio Borges, superintendente de finanças do SPC Brasil.
Pesquisas de entidades lojistas sugerem uma preocupação de clientes em evitar novas dívidas e um distanciamento do crédito neste Natal. Levantamento do Sindilojas Porto Alegre mostra que 59,5% dos consumidores pretendem pagar em dinheiro suas compras de final de ano (no ano passado eram 53,8%) enquanto 34% irão parcelar no cartão de crédito e apenas 6,7% usarão crediário ou cartão de loja.
— O consumidor está preferindo usar algum dinheiro que tinha guardado do que criar novas contas que pesem no orçamento — analisa Paulo Kruse, presidente do Sindilojas da Capital.
Evitar o endividamento
Na avaliação de economistas, os números sinalizam que uma lição foi aprendida: o excesso de compras a prazo leva ao endividamento, e daí para a inadimplência basta um descuido.
— O consumidor ainda está cauteloso, a memória da crise está bem viva. Existe predisposição em adotar postura comedida nas compras, com mais pesquisa e preocupação com gastos excessivos — avalia a economista-chefe da Fecomércio-RS, Patrícia Palermo.
Entretanto, alerta a especialista, sinais de otimismo começam a ser percebidos. A sensação de que o pior da crise ficou para trás e o fim das eleições, com definição de quem serão os governantes, são elementos que podem fazer, gradativamente, as pessoas consumirem mais. O avanço da criação de empregos — foram geradas 31,5 mil vagas no Estado entre janeiro e outubro, conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados — e o barateamento do juro bancário reforçam o brilho da luz no fim do túnel.
Sinal deste alívio é a pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) que mede a confiança do consumidor com a economia, que em novembro teve o maior índice desde julho de 2014.
Longe de ser mera estatística, esse dado mostra até que ponto as pessoas estão confortáveis para gastar com lazer e deixar de guardar dinheiro para fazer compras, por exemplo. Pesquisa do SPC Brasil mostrou que 72% dos brasileiros devem fazer compras para o Natal, sendo que 23% pretendem usar o 13º salário como reforço para os presentes.
— A melhora na renda, na confiança e no crédito corrobora com a expectativa de um Natal melhor que o de 2017, mas sem exuberâncias — projeta Oscar Frank, economista-chefe da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre.
Mutirão
Quem está com o nome sujo ou superendividado terá oportunidade de contar com ajuda de especialistas para regularizar sua situação. No próximo dia 10, o Grupo de Estudos de Superendividamento da PUCRS realizará mutirão em parceria com o Procon da Capital para orientar e mediar a renegociação de dívidas. Será das 9h às 17h, no 7º andar do prédio 50 da universidade (Av. Ipiranga, 6.681, em Porto Alegre). É importante levar documentação pessoal e relativa aos débitos.