Entusiasta da eleição de Jair Bolsonaro, o mercado financeiro ganhou novas razões para manter a boa vontade com o novo governo. A escolha do executivo do Santander Roberto Campos Neto para a presidência do Banco Central (BC) e a manutenção de Mansueto de Almeida na Secretaria do Tesouro reforçam a promessa de uma gestão técnica na autoridade monetária e, ao mesmo tempo, continuidade do compromisso com o reequilíbrio das contas do país.
Com os mercados de bolsa e dólar fechados nesta quinta-feira no Brasil, o termômetro para a repercussão da notícia foi o comportamento das ações brasileiras negociadas em Nova York. O índice Dow Jones Brazil Titans, que reúne papéis de 20 companhias, subia 1,8% no início da tarde e, após o anúncio, chegou a alta de 2,6%. Não é de se esperar, entretanto, nenhum movimento brusco nesta sexta-feira devido aos anúncios, além do natural realinhamento à variação das ações nacionais listadas nos Estados Unidos quando há feriado no Brasil.
Campos Neto colaborou com a campanha de Bolsonaro e já era especulado. Ou seja, estava no preço. Ao mesmo tempo, não se espera nada além da continuidade da linha de atuação de Ilan Goldfajn, que decidiu não permanecer no cargo, mas que terá a sua trajetória lembrada pela redução da taxa Selic aos patamares mínimos históricos (6,5% ao ano) e, sobretudo, por melhorar a comunicação do BC, trazendo mais visibilidade aos passos seguintes _ com uma exceção em maio desse ano, quando sinalizou novo corte no juro e o Copom decidiu por manutenção da taxa, gerando estresse no mercado que nos dias seguintes seria potencializado pelo início da greve dos caminhoneiros.
Em linha com a conversão de Bolsonaro, o novo presidente do BC tem ao menos no DNA a defesa do Estado mínimo. É neto do economista Roberto Campos, ícone do liberalismo brasileiro, e um dos idealizadores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) e do próprio BC, além de ministro do Planejamento no governo Castelo Branco (1964 a 1967). Soa familiar um Roberto Campos em dos postos mais importantes da economia brasileira com um militar na Presidência.